Qual a situação social e econômica da Rússia na virada para o século XX?

Qual a situação social e econômica da Rússia na virada para o século XX?

Quando os revolucion�rios franceses decidiram criar a Rep�blica, em 1792, tiveram a ideia de instituir o calend�rio revolucion�rio – ou calend�rio republicano – para simbolizar a ruptura com a antiga ordem e o in�cio de uma nova era. Mais importante foi recusa ao passado – ent�o ainda vigente – de opress�o, de desigualdade legalizada e de rela��es de abuso e explora��o que simbolizavam a monarquia absoluta e a cultura clerical. Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade resistem na mem�ria coletiva. No entanto, a ado��o do calend�rio gregoriano, bastante simb�lica, quase n�o � mencionada.

Mais de 100 anos depois, os revolucion�rios russos adotaram o calend�rio gregoriano, criado em 1582, ajustando-se � l�gica europeia, num ato de ruptura com seu passado mon�rquico. A Igreja Ortodoxa segue, e ainda o faz, o calend�rio juliano. Por isso, quando falamos em Revolu��o Russa as datas n�o batem. A chamada Revolu��o de Outubro, portanto, de acordo com o atual calend�rio, ocorreu em novembro.

O atraso russo de 13 dias em seu calend�rio n�o refletia a totalidade do retrocesso em rela��o � Europa, Estados Unidos e Jap�o. Politicamente, os russos s� tiveram um Parlamento livre no s�culo 20 – por um breve per�odo, em 1905, e ap�s fevereiro de 1917. Na esfera econ�mica, a situa��o era ainda pior. A R�ssia s� come�ou a se industrializar no in�cio do s�culo 20, mas continuou predominantemente agr�ria.

No s�culo 19, o atraso social na R�ssia era evidente. A servid�o no campo foi abolida apenas em 1861. Karl Marx (1818-1883) previa um desenvolvimento pleno da sociedade industrial como condi��o necess�ria para a constru��o de uma sociedade em novas bases. Mas essa R�ssia “atrasada” contrariou Marx, pois, de maneira singular na hist�ria, pulou etapas.

SALTOS

A moderniza��o e a industrializa��o da economia de um pa�s agr�rio, rec�m-sa�do de uma sociedade semifeudal, foi o primeiro e mais imediato impacto dos eventos de 1917. Da condi��o de derrotada e humilhada por sucessivas guerras, a R�ssia se transformou na chamada Uni�o das Rep�blicas Socialistas Sovi�ticas (URSS), constituindo, a partir de 1945, o posto de segunda pot�ncia mundial, atr�s apenas dos Estados Unidos.

Conhe�a S�o Petersburgo, no cora��o da Revolu��o

 

&lt;p&gt;&lt;/p&gt;&lt;p&gt;&amp;nbsp;&lt;/p&gt;&lt;p&gt;Do fim da Segunda Guerra at� 1989, o mundo assistiu � bipolariza��o decorrente das fraturas sociais de 1917. Um ter�o da humanidade viveu, durante esse per�odo, sob sistemas de governo e economias derivados de varia��es da f�rmula social proposta pelo marxismo-leninismo surgido em 1917.&lt;br&gt;&lt;br&gt;Se olharmos para o passado, veremos que a revolu��o gestou uma economia em que o Estado e sua burocracia cumpriram o papel que a burguesia industrial desempenhou no Ocidente, ou seja, arrancar esses pa�ses de sua base agr�ria e traz�-los ao mundo urbano e industrializado, f�rmula que, posteriormente, seria repetida em outros pa�ses.&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;span style="font-weight:bold"&gt;DITADURAS &lt;/span&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;Se o primeiro impacto da Revolu��o Russa foi amplamente favor�vel aos revolucion�rios de 1917, o segundo, n�o. O conceito de “ditadura do proletariado” e o centralismo democr�tico – em que pesava mais o centralismo que o democr�tico do Partido Oper�rio Social-Democrata Russo –, j� definiram a tend�ncia autorit�ria do governo institu�do em 1917.&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;/p&gt;&lt;div class="read-more read-more-small left"&gt; &lt;h2 class="margin-top-5 margin-bottom-10"&gt;saiba mais&lt;/h2&gt; &lt;ul&gt;&lt;li&gt;&lt;a target="_blank" href="https://www.uai.com.br/app/noticia/pensar/2017/10/27/noticias-pensar,215851/professor-da-ufmg-cria-modelos-que-regeram-as-maneiras-de-refletir.shtml" title="Professor da UFMG cria modelos que regeram as maneiras de refletir no pa�s"&gt;&lt;span style="background-image:url('https://i.uai.com.br/5Duek7Tyao4-muVRnFK4CH_EOWU=/130x90/smart/imgsapp2.uai.com.br/app/noticia_133890394703/2017/10/27/215851/20171027115655885422u.jpg')" class="img pull-left hidden-sm hidden-xs" role="image" alt="Professor da UFMG cria modelos que regeram as maneiras de refletir no pa�s"&gt; &lt;/span&gt; &lt;span class="read-more-description"&gt;&lt;p&gt;Professor da UFMG cria modelos que regeram as maneiras de refletir no pa�s&lt;/p&gt;&lt;/span&gt;&lt;/a&gt;&lt;/li&gt;&lt;li&gt;&lt;a target="_blank" href="https://www.uai.com.br/app/noticia/pensar/2017/09/08/noticias-pensar,213010/livros-discutem-os-dilemas-das-esquerdas-no-brasil.shtml" title="Livros discutem os dilemas das esquerdas no Brasil "&gt;&lt;span style="background-image:url('https://i.uai.com.br/K5xEWkgZxrsW4MOSAzDxxggTDMU=/130x90/smart/imgsapp2.uai.com.br/app/noticia_133890394703/2017/09/08/213010/20170908101013236628a.jpg')" class="img pull-left hidden-sm hidden-xs" role="image" alt="Livros discutem os dilemas das esquerdas no Brasil "&gt; &lt;/span&gt; &lt;span class="read-more-description"&gt;&lt;p&gt;Livros discutem os dilemas das esquerdas no Brasil &lt;/p&gt;&lt;/span&gt;&lt;/a&gt;&lt;/li&gt;&lt;li&gt;&lt;a target="_blank" href="https://www.uai.com.br/app/noticia/pensar/2017/09/01/noticias-pensar,212646/antropologa-descreve-como-os-direitos-dos-povos-indigenas-tem-sido-ata.shtml" title="Antrop�loga descreve como os direitos dos povos ind�genas t�m sido atacados"&gt;&lt;span style="background-image:url('https://i.uai.com.br/Fian9W3a_eUffj19Hidd1vMDig0=/130x90/smart/imgsapp2.uai.com.br/app/noticia_133890394703/2017/09/01/212646/20170901092809793707a.jpg')" class="img pull-left hidden-sm hidden-xs" role="image" alt="Antrop�loga descreve como os direitos dos povos ind�genas t�m sido atacados"&gt; &lt;/span&gt; &lt;span class="read-more-description"&gt;&lt;p&gt;Antrop�loga descreve como os direitos dos povos ind�genas t�m sido atacados&lt;/p&gt;&lt;/span&gt;&lt;/a&gt;&lt;/li&gt;&lt;/ul&gt; &lt;/div&gt;As caracter�sticas singulares da hist�ria russa, sobretudo a aus�ncia de estabilidade democr�tica duradoura,&amp;nbsp; foram determinantes para que o Estado sovi�tico cristalizasse o que existe de mais condenado em sua hist�ria: o stalinismo. Apesar das �bvias mudan�as no per�odo imediatamente posterior a Stalin, sua dimens�o autorit�ria permaneceu evidente e as poucas tentativas de reformas democr�ticas dos estados sovi�ticos foram dramaticamente reprimidas. O modelo permaneceu insens�vel �s transforma��es, reproduzindo as caracter�sticas perversas do absolutismo que havia sido derrubado em 1917.&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;strong&gt;GANHOS &lt;/strong&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;Ao final da Primeira Guerra Mundial, Vladimir L�nin e os bolcheviques esperavam que o exemplo r�sso promovesse outras revolu��es na Europa Ocidental. Apesar das enormes perdas humanas e da demonstra��o da brutalidade da velha ordem mundial, as previs�es n�o se confirmaram e, mesmo com a queda de quatro imp�rios – o russo, o alem�o, o austro-h�ngaro e o turco-otomano –, as revolu��es socialistas n�o ocorreram.&lt;br&gt;&lt;br&gt;Os princ�pios da Revolu��o de 1917, no entanto, permaneceram vivos e vieram � tona ap�s a Segunda Guerra, especialmente nas lutas anticoloniais que varreram a �frica, a �sia e parte do Oriente M�dio. China, Coreia, Vietn�, Angola e Mo�ambique foram revolu��es tardias, mas que mudaram a geopol�tica mundial e sacudiram as bases dos imp�rios europeus.&lt;br&gt;&lt;br&gt;As esperadas mudan�as de car�ter socialista ocorreram apenas em pa�ses que, de alguma forma, j� estavam sob a influ�ncia russa. A forma de governo nos moldes leninistas na Ucr�nia, Ge�rgia, Arm�nia, Azerbaij�o e Bielorr�ssia foram a resposta sovi�tica ao bloqueio econ�mico e comercial imposto por Inglaterra, Fran�a e Estados Unidos, que buscavam frear o avan�o da ideologia socialista na Europa Oriental e Ocidental, al�m de fragilizar a pr�pria R�ssia sovi�tica.&lt;br&gt;&lt;br&gt;Ap�s a crise de 1929, os sovi�ticos assistiram a um triplo movimento no mundo. O crescimento das ideias de esquerda, sejam as sociais-democratas mais reformistas, que florescem especialmente nos pa�ses n�rdicos, na Fran�a e na Inglaterra, ou aquelas de cunho mais revolucion�rio, como na Espanha durante a Guerra Civil (1936-1939) e no Leste Europeu ap�s a Segunda Guerra Mundial.&lt;br&gt;&lt;br&gt;Certos princ�pios disseminados pela Revolu��o Russa – a educa��o universal e p�blica, a sa�de gratuita, a regulamenta��o das jornadas e das condi��es de trabalho e, o mais importante, a presen�a decisiva do Estado promotor da moderniza��o e interventor na economia – se tornaram presentes na Europa e em outros pa�ses desde ent�o.&lt;br&gt;&lt;br&gt;“Ceder os an�is para n�o perder o dedo” ou “fazer a revolu��o antes que o povo a fa�a” foram lemas que tiveram origem na sombra sovi�tica, projetada sobre todas as sociedades constru�das na desigualdade e polarizadas pela luta de classes.&lt;br&gt;&lt;br&gt;A Revolu��o Russa representou um denominador comum, seja naqueles casos em que se colocava frontalmente contra a ideologia, j� nessa �poca chamada de “comunista” pelos nazistas e fascistas, assim como por aqueles que compartilhavam o mesmo background – os sociais-democratas, denominados socialistas, que mantiveram parte dos princ�pios revolucion�rios concebidos em 1917.&lt;br&gt;&lt;br&gt;Se a Revolu��o Russa representou o in�cio da economia planificada na URSS, no Ocidente ela decretou a morte do liberalismo e foi fundamental para o estabelecimento do futuro Estado do bem-estar social como pacto de classes e resposta ao “perigo comunista”. E, por oposi��o, tamb�m contribuiu para o que veio a se tornar o modelo do Estado empreendedor, nascido tanto das experi�ncias nazifascistas como keynesianas e que, hoje, � o que de fato d� as cartas em boa parte do mundo.&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;figure class="image-with-caption center"&gt;&lt;div&gt; &lt;img src="https://i.uai.com.br/hrOBuT0TxX-gE7YuEt_c-VaLzIU=/imgsapp2.uai.com.br/app/noticia_133890394703/2017/11/03/216251/20171103105656641727e.jpg" alt="" title="" class="img-responsive"&gt; &lt;/div&gt;&lt;/figure&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;strong&gt;O QUE FAZ UMA REVOLU��O?&lt;/strong&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;De um lado, a Catedral de S�o Bas�lio, constru�da pelo primeiro czar – Ivan, o Tem�vel (1530-1584), simbolizou a unifica��o da R�ssia e o in�cio de um longo casamento entre absolutismo e povo. De outro, a Igreja do Sangue Derramado consagrou o in�cio do div�rcio entre a autocracia e os seus governados. Constru�da por Alexandre III (1881-1894), essa igreja foi uma declara��o de guerra � moderniza��o e � ocidentaliza��o da R�ssia, pretendida por Pedro, o Grande (1672-1725) e por Catarina II (1729-1796).&lt;br&gt;&lt;br&gt;Alexandre II foi um reformista. Decretou o fim da servid�o, maior toler�ncia com a imprensa e certa liberdade de opini�o, al�m de prometer a cria��o de uma assembleia consultiva. Os inimigos externos da R�ssia j� n�o representavam qualquer amea�a. Os poloneses e lituanos, os suecos, os t�rtaros, o Imp�rio Otomano e, por fim, at� Napole�o e os ventos revolucion�rios franceses tinham sido derrotados.&lt;br&gt;&lt;br&gt;No entanto, na segunda metade do s�culo 19, a aus�ncia de mudan�as agravou os problemas internos, sobretudo a servid�o, que impedia o desenvolvimento agr�cola e industrial. A insatisfa��o era sentida no campo, com a eclos�o de diversas revoltas. Os ventos europeus carregando ideias liberais, socialistas, constitucionalistas e republicanas atingiram a classe m�dia russa no setor mais delicado para a monarquia: os militares.&lt;br&gt;&lt;br&gt;� no contexto de uma sucess�o de guerras desastrosas, endividamento da Coroa russa e desorganiza��o da economia que o desabastecimento e a fome se alastraram. Somaram-se a esses fatores o crescente �dio ao czarismo por s�culos de massacres e repress�o a qualquer oposi��o. Assim, foi criado o caldeir�o da revolu��o que explodiu em 1917, nos termos de John Reed, naqueles 10 dias que abalaram o mundo.&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;strong&gt;REVOLTA DOS DEZEMBRISTAS&lt;/strong&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;Quando Alexandre I (1801-1825) invadiu a Fran�a, depois da vit�ria sobre Napole�o, viu-se obrigado a garantir a preserva��o da Constitui��o francesa no territ�rio ocupado. Enquanto permaneceu em Paris, o oficialato e soldados russos vivenciaram muitas contradi��es: os militares que derrotaram Napole�o assistiram ao imperador permitir que os franceses tivessem a sua Constitui��o, n�o conseguindo entender por que n�o podiam igualmente t�-la na R�ssia. Por seu turno, os soldados tampouco compreendiam por que os camponeses franceses tinham mais direitos e liberdades do que os de seu pa�s. Ao retornarem � R�ssia, foi na sucess�o de Alexandre I que explodiu, em dezembro de 1825, aquilo que ficou conhecido como a Revolta dos Dezembristas. Boa parte dos oficiais se recusou a jurar lealdade ao novo czar, Nicolau I (1825-1855), exigindo uma s�rie de reformas, entre elas uma Constitui��o e a aboli��o da servid�o. Tal movimento, e o seu brutal massacre, ocorreu em dezembro de 1825, da� a origem de seu nome, que hoje perdura na pra�a ao lado do Pal�cio de Inverno de S�o Petesburgo.&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;strong&gt;OPOSI��O &lt;br&gt;INTELECTUAL&lt;/strong&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;O massacre, a tiros de canh�o, naquele dezembro de 1825, de parte do Ex�rcito russo deixou sequelas. Um movimento clandestino se alastrou. Intelectuais e estudantes come�aram a se manifestar contra a servid�o, defendendo liberdade e democratiza��o. Em 1848, os ideais republicanos, nacionalistas e antimonarquistas se alastraram por toda a Europa. Anarquistas, socialistas e nacionalistas entraram em cena de forma definitiva, chegando at� a R�ssia. Em 1852, Ivan Turgu�niev (1818-1883) lan�ou o romance Mem�rias de um ca�ador, cr�tica destruidora da servid�o. A opini�o p�blica reage t�o fortemente, que Nicolau II colocou o escritor em pris�o domiciliar. As organiza��es clandestinas proliferaram e na intelig�ncia russa prosperaram prega��es reformistas, pela liberdade de pensamento, de manifesta��o e reivindica��es de car�ter social. Autores como Fi�dor Dostoi�vski (1821-1881), Leon Tolstoi (1828-1910) e outros chegaram a participar de c�rculos e organiza��es abertamente anticzaristas. Por isso, Dostoi�vski foi condenado � pris�o e ao servi�o militar obrigat�rio. Sua obra reflete todas as contradi��es desse per�odo.&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;strong&gt;GUERRA E REFORMAS&lt;/strong&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;Ao longo do s�culo 19, a monarquia e a aristocracia russas foram paulatinamente encurraladas. Nicolau I, que ascendeu ao poder em 1825 massacrando os oficiais dezembristas, tentou unificar a R�ssia sob a amea�a do inimigo externo. Ele empurrou o pa�s para um conflito tr�gico: a Guerra da Crimeia (1853-1856). Enfrentando Fran�a, Inglaterra e o Imp�rio Otomano, a R�ssia foi derrotada. Com a morte de Nicolau I, em 1855, coube ao filho, Alexandre II, arcar com o �nus financeiro, social e pol�tico. Para n�o perder a coroa, Alexandre II anunciou v�rias reformas, incluindo o fim da servid�o. Mas a proposta de di�logo chegou tarde. O �dio ao czarismo crescia e Alexandre II sofreu cinco atentados. Em 1º de mar�o de 1881, duas bombas explodiram sobre a carruagem do czar – estra�alhando suas pernas e o condenando � morte – no exato local onde foi erguida a Igreja do Sangue Derramado, em S�o Petersburgo.&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;strong&gt;REPRESS�O E IRONIA&lt;/strong&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;Diferentemente de Alexandre II, seu filho Alexandre III se voltou � R�ssia tradicional, tornando-se um brutal repressor. Lan�ou a pol�cia secreta sobre seus advers�rios, fechou jornais de oposi��o, prendeu � revelia, torturou, assassinou e avan�ou sobre os movimentos nacionalistas. Se os novos atores pol�ticos e sociais que despontavam na R�ssia seriam, por si, suficientes para desestabilizar a monarquia, foi a dura repress�o de Alexandre III que serviu para isol�-la. Em sua �nsia de frear a hist�ria, mandou enforcar um xar�, de sobrenome Ulyanov, cujo irm�o mais novo se torna conhecido na hist�ria pelo codinome de L�nin. Por ironia, foi o segundo Ulyanov quem decidiu o destino do filho do czar Alexandre III, Nicolau II, chamado o Pacificador. A ordem partiu de Moscou, de L�nin e do l�der bolchevique Yakov Sverdlov. Nicolau II, a mulher, o filho, as quatro filhas, o m�dico da fam�lia imperial, um servo pessoal, a camareira da imperatriz e o cozinheiro da fam�lia foram executados na madrugada de 16 para 17 de julho de 1918, em Ecaterimburgo. Foi o fim do czarismo, aquele que Alexandre III, com sua trucul�ncia, acreditava perpetuar.&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;strong&gt;NOVOS ATORES&lt;/strong&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;Na cena pol�tica, novos atores passaram a desempenhar papel fundamental na cria��o de condi��es para a Revolu��o de 1917: camponeses, oper�rios urbanos a incipiente burguesia industrial russa. Mesmo com a aboli��o da servid�o, as diferen�as de classe no campo continuaram existindo e mantendo viva a insatisfa��o com a monarquia. Na virada do s�culo 20, apenas 20% da popula��o russa vivia nas cidades. Foram os camponeses que integraram a linha de frente das jornadas de fevereiro e outubro, pois a maioria dos soldados do Ex�rcito era filha de fam�lias camponesas e alimentava �dio contra a nobreza e a aristocracia que os oprimia. Nas cidades, a industrializa��o ainda era incipiente. De um lado, a pequena burguesia. De outro, um operariado em p�ssimas condi��es de trabalho e subsist�ncia. A aus�ncia de direito de greve e de organiza��o e a proibi��o de sindicatos e manifesta��es – reprimidas pela pol�cia – fomentaram o radicalismo e a aceita��o dos ideais revolucion�rios. A burguesia industrial, que poderia ter liderado a transi��o da R�ssia czarista para uma monarquia constitucional ou para uma Rep�blica, n�o encontrou espa�o pol�tico para transforma��es efetivas no regime, fazendo com que a monarquia, aristocracia e clero se fechassem em defesa do absolutismo.&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;strong&gt;ABALOS NO &lt;br&gt;CZARISMO&lt;/strong&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;Em meio ao envolvimento da R�ssia na guerra contra o Jap�o, que resultaria em uma vergonhosa derrota, em 9 de janeiro de 1905, uma manifesta��o de trabalhadores tentou levar ao czar uma peti��o por melhores condi��es de vida. A manifesta��o foi um massacre – n�meros variam de 300 a mil mortos –, conhecida como Domingo Sangrento. O evento arrastou uma onda de furor e revolta por toda a R�ssia. V�rios conselhos oper�rios de inspira��o anarquista, chamados soviets, foram criados para tentar reagir. No interior, os camponeses iniciam ocupa��es exigindo reforma agr�ria, queimando e pilhando grandes propriedades. Entre os militares, a tripula��o do encoura�ado Potemkin se rebelou em junho e, com ela, a frota do Mar Negro. Diante da guerra externa e da crescente insurrei��o interna, o czar Nicolau II cedeu �s press�es dos setores liberais russos e assinou a Carta de Outubro. Com ela, “concedeu” a liberdade de express�o, liberou o direito de organiza��o partid�ria e convocou elei��es para a Duma (Parlamento), acenando com a ideia de uma monarquia constitucional. Mas as diverg�ncias entre os l�deres da revolu��o fizeram com que, gradativamente, o czar voltasse a controlar a situa��o e iniciasse uma brutal repress�o.&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;strong&gt;A PRIMEIRA GUERRA&lt;/strong&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;Outra guerra tornou a situa��o do czar Nicolau II insustent�vel. Desta vez contra o Imp�rio Alem�o, com o melhor ex�rcito e pela mais din�mica economia do per�odo. Diante da amea�a alem� nos B�lc�s, �rea de interesse e influ�ncia da R�ssia, o czar entrou no conflito, aliado aos franceses e ingleses, atacando o Imp�rio Otomano e o Imp�rio Austro-h�ngaro. Essa prolongada guerra, para a qual nenhum dos pa�ses envolvidos estava preparado, de todos cobrou alto pre�o. Rebeli�es no Ex�rcito franc�s, no austr�aco e no russo se armavam. Mesmo o Imp�rio Alem�o, de excelente infraestrutura econ�mica e log�stica, apresentava rachaduras sociais e em suas frentes de conflito. A R�ssia, o oposto dessa organiza��o, pagou o pre�o por seu atraso.&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;strong&gt;L�NIN E O IMPERIALISMO&lt;/strong&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;Depois que seu irm�o foi condenado � morte pela pol�cia de Alexandre III, L�nin foi expulso da Universidade Imperial de Kazan aparentemente por pertencer a organiza��es estudantis que representavam minorias �tnicas. Conseguiu concluir o curso de direito na Faculdade de S�o Petersburgo, vinculando-se ao Partido Oper�rio Social Democrata Russo. Inicialmente se inclina �s ideias de Gueorgui Plekhanov (1856-1918): a R�ssia evolu�a do feudalismo para o capitalismo e, somente ap�s o desenvolvimento deste, se transformaria numa sociedade socialista. Nesse processo, os oper�rios urbanos teriam papel central. Mas L�nin tamb�m conviveu com membros de uma corrente popular denominada narodniks ou populistas, segundo a qual o papel central no processo de transforma��o do Estado caberia aos camponeses e que, atrav�s de organiza��es comunit�rias e cooperativas agr�colas, a R�ssia poderia se desviar do capitalismo. A partir dessas experi�ncias, que se somam a leituras posteriores sobre a nova etapa do capitalismo mundial, L�nin come�ou a advogar uma nova interpreta��o da realidade russa e da consolida��o do socialismo. Em sua concep��o, apesar do papel central do operariado na constru��o da nova ordem, a R�ssia n�o precisaria atravessar um desenvolvimento pleno de sociedade industrial – como a Alemanha, a Inglaterra e a Fran�a – para atingir o socialismo. Para ele, a R�ssia, dado o novo momento vivido pelo capitalismo mundial, que ele chamava de imperialismo, seria o elo mais fraco da cadeia e mais propenso � ruptura da ordem capitalista que seus rivais na Europa. No plano pol�tico, as implica��es desse entendimento eram �bvias: os oper�rios russos e os camponeses, se quisessem construir uma nova ordem, deveriam se manter longe da burguesia industrial e agr�ria. Para L�nin, estas eram incapazes de romper com a ordem czarista, por sua fragilidade pol�tica e econ�mica. Essa diverg�ncia de orienta��o d� origem � divis�o do Partido Oper�rio Social Democrata Russo entre bolcheviques (maioria em russo) e mencheviques (minoria), cuja polariza��o se exacerbaria nos anos posteriores.&lt;br&gt;&lt;br&gt;&lt;strong&gt;A VIRADA&lt;/strong&gt;&lt;br&gt;&lt;br&gt;Com a fome se impondo, em fevereiro de 1917 explodiram as primeiras revoltas na capital Petrogrado, sempre acompanhadas por implac�vel repress�o. Numa das greves, o czar Nicolau II mandou que os militares contivessem os manifestantes, mas parte do Ex�rcito aderiu � revolta. O exemplo se alastrou rapidamente para outras cidades e, especialmente, para outros corpos do Ex�rcito russo. Na frente de guerra contra a Alemanha e a �ustria, os soldados russos se recusaram a lutar. Em 27 de fevereiro do calend�rio juliano, soldados e trabalhadores com bandeiras vermelhas invadiram a Duma (Parlamento), exigindo o fim do czarismo. O movimento rebelde criou ent�o o Conselho de Representantes dos Oper�rios e Soldados (Soviet) de Petrogrado, que, dali em diante, tornou-se o centro da revolu��o.&lt;br&gt;&lt;br&gt;Aconselhado a abdicar por seus mais importantes generais, Nicolau II foi pressionado a criar um governo provis�rio sob a lideran�a do pr�ncipe Georgy Lvov, na tentativa de se reconstituir, no m�dio prazo, uma monarquia constitucional, ainda que naquele momento tivesse o esbo�o institucional de uma Rep�blica.&lt;br&gt;&lt;br&gt;As ordens emanadas do governo provis�rio se chocaram com o soviet de Petrogrado, que reivindicou para si a legitimidade de governar. O governo de coaliz�o, sustentado por burgueses urbanos e nobres rurais, ficou imobilizado e sem poder para efetivar as medidas que diminuiriam as tens�es sociais. No plano externo, o governo n�o conseguiu acabar com a guerra, porque seus aliados e credores ingleses exigiam a manuten��o da frente ocidental para novos financiamentos. Internamente, a alian�a com a nobreza impedia a reforma agr�ria reivindicada.&lt;br&gt;&lt;br&gt;A fal�ncia do sistema de abastecimento continuou a provocar descontentamento, saques nos centros urbanos e a fome debilitava vastas parcelas da popula��o. Nesse cen�rio de descr�dito, o governo provis�rio se tornou inoperante. Defendendo a sa�da da R�ssia da guerra, L�nin, que estava exilado, negociou com os alem�es, que desejavam o mesmo, o seu retorno � R�ssia. Providenciaram apoio, recursos e prote��o para sua volta e, em abril de 1917, L�nin desembarcou na Esta��o Finl�ndia. Junto aos bolcheviques, lan�ou as “Teses de Abril”, defendendo a tr�ade “paz, p�o e terra”.&lt;br&gt;&lt;br&gt;A proposta de L�nin defendia o acordo de paz com a Alemanha, para solucionar o abastecimento, a infla��o e promover a reforma agr�ria. Essas palavras soaram como m�sica para os soldados, cansados de uma guerra em que 4 milh�es j� tinham morrido.&lt;br&gt;&lt;br&gt;Os bolcheviques perceberam que, ao inflar o poder dos soviets, seria inevit�vel o confronto com a Duma e com o governo provis�rio, preocupados com a convoca��o de uma Assembleia Constituinte para definir a arquitetura pol�tica da nova R�ssia. Para fomentar a revolta e desacreditar o governo vigente, os soviets se concentraram nos problemas de sobreviv�ncia imediatos da popula��o. O conflito entre esses dois polos de poder marcou a hist�ria da R�ssia de fevereiro a outubro no calend�rio juliano – mar�o e novembro no gregoriano.&lt;br&gt;&lt;br&gt;Com os soldados se recusando a lutar nas frentes e com os marinheiros em revolta na fortaleza de Kronstadt, em final de outubro, os anarquistas, os socialistas revolucion�rios e os bolcheviques decidiram que era chegada a hora de romper com o governo provis�rio. Entre 25 e 26 de outubro (do calend�rio juliano), tomaram Petrogrado. No primeiro dia, todas as ag�ncias do governo, correios e tel�grafos, bases militares e pr�dios do governo civil foram controladas pelos sovi�ticos. No dia subsequente, o Pal�cio de Inverno, sede do governo provis�rio, foi invadido, e v�rios ministros presos. A tentativa de resist�ncia de grupos militares n�o foi capaz de mobilizar as bases e fracassou. L�nin estimulou a ideia de “todo poder aos soviets” e ordenou o fechamento da Assembleia Nacional Constituinte. A partir desse momento, o conflito n�o poderia mais ser resolvido no campo da pol�tica, mas apenas pela via militar.&lt;br&gt;&lt;br&gt;Ap�s a tomada do poder, o governo sovi�tico adotou medidas que consolidaram o apoio de boa parte dos soldados. De um lado, o chamado Ex�rcito Vermelho, comandado por L�nin e os bolcheviques, e apoiado pelos anarquistas e os socialistas revolucion�rios, que dominavam os grandes centros urbanos, especialmente a capital Petrogrado. De outro, denominado Ex�rcito Branco, os mencheviques, a nobreza e os kulaks (camponeses ricos) predominam no campo e em outras cidades importantes, n�o russas como Kiev e Helsinque. Pot�ncias ocidentais, entre elas os Estados Unidos, a Inglaterra e a Fran�a, apoiaram os “brancos”.&lt;br&gt;&lt;br&gt;A guerra civil entre os dois ex�rcitos foi sangrenta e durou anos. Ap�s a vit�ria do Ex�rcito Vermelho, em meados de 1921, os russos come�am a reconstru��o de sua economia, consolidando a mais importante revolu��o do s�culo 20, que determinou o ponto de inflex�o na hist�ria do mundo. &lt;p&gt;&lt;/p&gt;&lt;/div&gt; &lt;script type="text/javascript"&gt; (function(i,g) {var videocontainers=document.getElementsByClassName(i),videocontainers_elms=Array.prototype.filter.call(videocontainers,function(e){return"div"===e.nodeName.toLowerCase()}),videoratio=640/350;for(var elm in videocontainers_elms)videocontainers_elms[elm].style.minHeight=(videocontainers_elms[elm].offsetWidth?Math.ceil(videocontainers_elms[elm].offsetWidth/videoratio):0).toString().concat("px"),videocontainers_elms[elm].style.backgroundColor=g})('video-container','#eee'); <div class="tags"> <ol class="tags__list"> <li class="tags__list--item"> <a onclick="montaURL('organiza��o econ�mica','https://www.uai.com.br/busca/busca_emais/') " title="organiza��o econ�mica">organiza��o econ�mica</a> </li> <li class="tags__list--item"> <a onclick="montaURL('revolu��o russa','https://www.uai.com.br/busca/busca_emais/') " title="revolu��o russa">revolu��o russa</a> </li> <li class="tags__list--item"> <a onclick="montaURL('agr�ria','https://www.uai.com.br/busca/busca_emais/') " title="agr�ria">agr�ria</a> </li> <li class="tags__list--item"> <a onclick="montaURL('reforma','https://www.uai.com.br/busca/busca_emais/') " title="reforma">reforma</a> </li> <li class="tags__list--item"> <a onclick="montaURL('pensar','https://www.uai.com.br/busca/busca_emais/') " title="pensar">pensar</a> </li> <li class="tags__list--item"> <a onclick="montaURL('sociedade','https://www.uai.com.br/busca/busca_emais/') " title="sociedade">sociedade</a> </li> <li class="tags__list--item"> <a onclick="montaURL('pol�tica','https://www.uai.com.br/busca/busca_emais/') " title="pol�tica">pol�tica</a> </li> <li class="tags__list--item"> <a onclick="montaURL('1917','https://www.uai.com.br/busca/busca_emais/') " title="1917">1917</a> </li> </ol> </div> <script type="text/javascript"> function montaURL(tag, urlBusca){ if(urlBusca != 'javascript:void(0)'){ a = encodeURIComponent(tag); document.location.href = urlBusca + '?c=tag&q='+ a; } }

Qual era a situação da Rússia na virada do século 19 para o século 20?

Sofreu pequenos avanços industriais no século XIX, mas mesmo assim o Império Russo continuou a ser completamente agrário e arcaico. Essa pequena industrialização fez com que diversos camponeses saíssem do meio rural e viessem tentar a vida nos centros urbanos, após a abolição da servidão em 1861.

Qual era a situação política econômica e social da Rússia durante o século XIX?

Os operários das indústrias que constituíam a emergente classe social que surgiu na Rússia no século XIX, se encontravam em condições extremas de exploração: péssimos salários, nenhuma legislação trabalhista, falta de segurança e uma carga horária diária de 12 a 16 horas.

Qual a situação econômica política e social durante a Revolução Russa?

- A Rússia entrou no século XX com uma economia baseada quase exclusivamente na produção agrícola. Havia elevado índice de pobreza e miséria na zona rural da Rússia. A condição de vida dos camponeses (mujiques) era precária. Havia forte concentração das terras nas mãos dos boiardos (aristocracia rural russa).

Que transformações políticas sociais e econômicas resultaram da Revolução Russa?

A partir desse episódio, conhecido como Revolução de Outubro ou Revolução Bolchevique, iniciaram-se mudanças no sistema econômico russo. Terras da Igreja, nobreza e burguesia foram desapropriadas e concedidas aos camponeses, as indústrias passaram a ser controladas pelos operários e os bancos foram estatizados.