Luís Vaz de Camões é um poeta e dramaturgo português. Nasceu em Lisboa, em 1524, e morreu em 1580. Durante 17 anos, esteve longe de Portugal. Em terras estrangeiras, foi soldado, perdeu um olho em batalha e escreveu a sua obra-prima Os Lusíadas, publicada em 1572, dois anos após o retorno do poeta a seu país natal. Show
O autor pertence ao classicismo português. Suas obras são marcadas por uma visão antropocêntrica. Seus poemas são compostos em versos regulares. No caso dos sonetos, o poeta utiliza também a medida nova (decassílabo). Adepto ao neoplatonismo, sua poesia idealiza o amor e a mulher amada. Além disso, apresenta temáticas como o desconcerto do mundo e o sofrimento amoroso. Leia também: Humanismo: a estética da transição entre o medievo e o renascimento Tópicos deste artigo
Biografia de Luís Vaz de CamõesLuís Vaz de Camões é considerado o maior poeta da língua portuguesa. Não há muitas certezas sobre os fatos de sua vida. A maioria deles é baseada em hipóteses apenas, muitas vezes obtidas com base em interpretações de seus poemas. Assim, nasceu em Lisboa em 1524 e morreu em 1580. Depois de frequentar a Universidade de Coimbra, atuou como soldado, quando perdeu um olho durante combate em Marrocos. Morou na Índia por três anos e esteve, também, na Arábia, em Macau e em Moçambique. Assim, viveu, ao todo, 17 anos em terras estrangeiras, de 1553 a 1570. “Luís Vaz de Camões”, de François Gérard (1770-1837).A sua obra-prima,Os Lusíadas, foi publicada em 1572 e obteve sucesso, de modo que a Coroa portuguesa passou a pagar uma pensão ao autor. No entanto, morreu pobre e foi enterrado em uma vala comum. Antes disso, na juventude, Camões, brigão e boêmio, foi preso, em Lisboa, por agressão e, mais tarde, em Goa, por dívidas. Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;) É sabido também que sempre esteve envolvido sexualmente com mulheres, tanto nobres quanto prostitutas, porém, no fim da vida, ele se entregou ao catolicismo e ao arrependimento. Outro fato marcante de sua existência foi o naufrágio que sofreu quando estava a caminho de Goa. Nessa ocasião, Camões conseguiu salvar-se e o manuscrito de Os Lusíadas. Reza a lenda que, nessa viagem, estava também sua amada Dinamene e que Camões precisou escolher entre a vida dela e a sua obra-prima. Dinamene então morreu afogada. Leia também: José Saramago – autor português vencedor do Nobel de literatura Características literárias de Luís Vaz de Camões“Vênus e Cupido”, tela de Lorenzo Lotto (1480-1557), são deuses do amor — referências greco-latinas presentes na poesia camoniana.Nas obras de Luís Vaz de Camões, é possível apontar as seguintes características:
Obras de Luís Vaz de CamõesCamões escreveu centenas de poemas, entre sonetos, éclogas, canções, redondilhas, sextinas, elegias, epístolas, oitavas e odes. É autor das peças de teatro El rei Seleuco (1645), Anfitriões (1587) e Filodemo (1587). Além, é claro, de seu poema épico Os Lusíadas. No entanto, somente esse último foi publicado em vida. A primeira edição de sua poesia lírica só veio a público 15 anos depois de sua morte, em 1595, pelas mãos de Fernão Rodrigues Lobo Soropita (1560-?), com o título de Rimas, ampliada com mais poemas em edições posteriores. Coube a intelectuais, como a crítica literária Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925), identificar os poemas que não eram de Camões nessas edições. Segundo ela, em 1882:
Acesse também: Romantismo em Portugal – características e autores Os LusíadasCapa do livro “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, considerada a obra-prima do autor. [1]No entanto, é o poema épico Os Lusíadas a obra de Camões mais apreciada pela crítica, que considera esse livro uma das obras literárias mais importantes da língua portuguesa. Tal poema é dividido em 10 cantos, com um total de 8816 versos decassílabos (10 sílabas poéticas), distribuídos entre 1102 estrofes, compostas em oitava rima (estrofe de oito versos com o esquema rítmico ABABABCC). Conta a história do povo português pelas aventuras do herói Vasco da Gama (1469-1524), representante dos heroicos lusitanos. No início desse poema narrativo, o narrador, no “Canto I”, faz a proposição (apresenta o tema e o herói): As armas e os Barões assinalados Que da Ocidental praia Lusitana Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; E também as memórias gloriosas Daqueles Reis que foram dilatando A Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando, E aqueles que por obras valorosas Se vão da lei da Morte libertando, Cantando espalharei por toda parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte. [...] Vasco da Gama, o forte Capitão, Que a tamanhas empresas se oferece, De soberbo e de altivo coração, A quem Fortuna sempre favorece, Pera se aqui deter não vê razão, Que inabitada a terra lhe parece. Por diante passar determinava, Mas não lhe sucedeu como cuidava. Ainda no “Canto I”, é possível localizar a invocação e a dedicatória: E vós, Tágides|2| minhas, pois criado Tendes em mi um novo engenho ardente, Se sempre em verso humilde celebrado Foi de mi vosso rio alegremente, Dai-me agora um som alto e sublimado, Um estilo grandíloco e corrente, Por que de vossas águas Febo ordene Que não tenham inveja às de Hipocrene. Dai-me uma fúria grande e sonorosa, E não de agreste avena ou flauta ruda, Mas de tuba canora e belicosa, Que o peito acende e a cor ao gesto muda; Dai-me igual canto aos feitos da famosa Gente vossa, que a Marte tanto ajuda; Que se espalhe e se cante no universo, Se tão sublime preço cabe em verso. [...] Vós, poderoso Rei|3|, cujo alto Império O Sol, logo em nascendo, vê primeiro, Vê-o também no meio do Hemisfério, E quando desce o deixa derradeiro; Vós, que esperamos jugo e vitupério Do torpe Ismaelita cavaleiro, Do Turco Oriental e do Gentio Que inda bebe o licor do santo Rio: Inclinei por um pouco a majestade Que nesse tenro gesto vos contemplo, Que já se mostra qual na inteira idade, Quando subindo ireis ao eterno templo; Os olhos da real benignidade Ponde no chão: vereis um novo exemplo De amor dos pátrios feitos valorosos, Em versos divulgado numerosos. [...] Mas, enquanto este tempo passa lento De regerdes os povos, que o desejam, Dai vós favor ao novo atrevimento, Pera que estes meus versos vossos sejam, E vereis ir cortando o salso argento Os vossos Argonautas, por que vejam Que são vistos de vós no mar irado, E costumai-vos já a ser invocado. A partir daí, do “Canto I” ao “Canto X”, é narrada a viagem histórica de Vasco da Gama: Está a gente marítima de Luso Subida pela enxárcia, de admirada, Notando o estrangeiro modo e uso E a linguagem tão bárbara e enleada. Também o Mouro astuto está confuso, Olhando a cor, o trajo e a forte armada; E, perguntando tudo, lhe dizia Se porventura vinham de Turquia. E mais lhe diz também que ver deseja Os livros de sua Lei, preceito ou fé, Pera ver se conforme à sua seja, Ou se são dos de Cristo, como crê; E por que tudo note e tudo veja, Ao Capitão pedia que lhe dê Mostra das fortes armas de que usavam Quando c’os inimigos pelejavam. Responde o valoroso Capitão, Por um que a língua escura bem sabia: — “Dar-te-ei, Senhor ilustre, relação De mi, da Lei, das armas que trazia. Nem sou da terra, nem da geração Das gentes enojosas de Turquia, Mas sou da forte Europa belicosa; Busco as terras da Índia tão famosa. [...] No “Canto X”, o epílogo (encerramento da história): Pera servir-vos, braço às armas feito, Pera cantar-vos, mente às Musas dada; Só me falece ser a vós aceito, De quem virtude deve ser prezada. Se me isto o Céu concede, e o vosso peito Digna empresa tomar de ser cantada, Como a pressaga mente vaticina Olhando a vossa inclinação divina, Ou fazendo que, mais que a de Medusa, A vista vossa tema o monte Atlante, Ou rompendo nos campos de Ampelusa Os muros de Marrocos e Trudante, A minha já estimada e leda Musa Fico que em todo o mundo de vós cante, De sorte que Alexandro em vós se veja, Sem à dita de Aquiles ter inveja. Veja também: Castro Alves – autor do longo poema narrativo “Navio negreiro” Exemplos de poesiasDinamene é uma ninfa aquática, segundo a mitologia grega.A seguir, vamos ler e analisar dois sonetos de Camões. No primeiro, o eu lírico dialoga com o Amor, entendido aqui como uma divindade greco-latina, e diz-lhe que, sem esperança, visitou o seu templo, ou seja, acabou apaixonando-se, mas passou por um naufrágio, ao qual sobreviveu. Ele pergunta ao Amor o que mais essa divindade quer dele, já que toda a glória que o eu lírico alcançou não existe mais, e pede ao deus para não o forçar a entrar “onde não há saída”, isto é, a apaixonar-se de novo. Então entendemos que o eu lírico sofreu ao perder a sua amada e só lhe sobraram restos de alma, vida e esperança. É por meio dos “despojos doces”, isto é, “alma, vida e esperança”, que o Amor pode vingar-se do eu lírico, e se essa vingança não o satisfizer, o deus deve contentar-se com as lágrimas que ele chora: Amor, co’a esperança já perdida, Teu soberano templo visitei; Por sinal do naufrágio que passei, Em lugar dos vestidos, pus a vida. Que queres mais de mim, que destruída Me tens a glória toda que alcancei? Não cuides de forçar-me, que não sei Tornar a entrar onde não há saída. Vês aqui alma, vida e esperança, Despojos doces de meu bem passado, Enquanto quis aquela que eu adoro: Nelas podes tomar de mim vingança; E se inda não estás de mim vingado, Contenta-te com as lágrimas que choro. Tudo indica, já que Camões refere-se a um naufrágio, que a mulher a quem ele se refere, ao dizer “aquela que eu adoro”, é sua amada Dinamene, que morreu em um naufrágio. Nesse sentido, o final do soneto, ao falar de vingança, pode estar referindo-se ao fato de Camões ter preferido salvar o seu manuscrito d’Os Lusíadas em vez da amada, fato que motivaria a vingança do Amor. No entanto, isso é só uma especulação. Nessa perspectiva, Dinamene aparece novamente no segundo soneto que vamos analisar. Nele, o eu lírico chama-a de “inimiga”. Nesse caso, porque o ser amado é também um inimigo, já que provoca o sofrimento de quem o ama. Assim, o eu lírico dialoga com ela, nas mãos de quem o destino colocou a sua felicidade. A inimiga, a amada, está morta. Ao que tudo indica, sua morte ocorreu em um naufrágio, já que lhe falta “na terra sepultura”, pois seu corpo está no mar, e como não há uma sepultura, o eu lírico não tem um túmulo para visitar e, assim, consolar-se. A morte por afogamento da amada fica evidente na segunda estrofe, quando o eu lírico diz que “Eternamente as águas lograrão/ A tua peregrina formosura”, isto é, as águas terão para sempre a sua beleza. No entanto, o eu lírico promete que, enquanto ele estiver vivo, a amada morta estará sempre viva em sua alma, e os versos dele, se sobreviverem ao tempo, vão celebrar a sua amada e o “amor tão puro e verdadeiro” que tiveram. Assim, enquanto os poemas dele sobreviverem, ela será lembrada: Cara minha inimiga, em cuja mão Pôs meus contentamentos a ventura, Faltou-te a ti na terra sepultura, Porque me falte a mim consolação. Eternamente as águas lograrão A tua peregrina formosura; Mas, enquanto me a mim a vida dura, Sempre viva em minh’alma te acharão. E se meus rudes versos podem tanto Que possam prometer-te longa história Daquele amor tão puro e verdadeiro, Celebrada serás sempre em meu canto; Porque enquanto no mundo houver memória, Será minha escritura teu letreiro. Veja também: Cinco poemas da literatura portuguesa Escola literária de Luís de CamõesO classicismo retoma o heroísmo dos poemas épicos da Antiguidade. A obra de Luís Vaz de Camões pertence ao classicismo, estilo de época renascentista e que, portanto, apresenta, em linhas gerais, as seguintes características:
Como nos informa Audemaro Taranto Goulart|4| e Oscar Vieira da Silva|5|, esse tipo de:
Com base nessa citação, é possível entender a criação de Os Lusíadas por Camões. Afinal, já que a Antiguidade deixou para a humanidade poemas épicos, como Ilíada e Odisseia, de Homero, além da Eneida, de Virgílio (70 a. C.-19 a. C.), Camões, influenciado por esses autores clássicos, viu-se impelido a enaltecer a superioridade humana na figura de Vasco da Gama, um herói épico à maneira da Antiguidade. Para conhecer mais detalhes acerca da escola literária de Luís Vaz de Camões, leia: Classicismo. Críticas à obra de Luís Vaz de CamõesEm 1872, Joaquim Nabuco (1849-1910) fez a seguinte observação sobre Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões:
Já o professor universitário Salvatore D’Onofrio, em 1970, sobre o episódio do Velho do Restelo, de Os lusíadas, afirmou:
Em 1973, a professora universitária Cleonice Berardinelli disse sobre Camões:
Roberta Andréa dos Santos Colombo, mestre em Letras, em artigo de 2011, observou que Camões:
Por fim, Hélio Alves, doutor em Literatura Portuguesa, em ensaio de 2015, fez a seguinte consideração:
Notas |1| Citada por Maria Ana Ramos (professora na Universidade de Zurique). |2| Ninfas do rio Tejo. |3| D. Sebastião I (1554-1578), rei de Portugal. |4| Audemaro Taranto Goulart é doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP). |5|Oscar Vieira da Silva é bacharel em Letras Neolatinas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Maria. |6| Citada por André Luiz de Freitas Dias e Maria Luiza Scher Pereira. |7| Jorge de Sena (1919-1978) foi um poeta português. Crédito da imagem [1] LP&M (Reprodução) Por Warley Souza O que o homem do leme quer dizer?Indivíduo que navega; navegante.
Qual das vítimas que morreram no Cabo das Tormentas poderia ser o homem do leme com quem o monstrengo fala no poema de Pessoa?5- Adamastor foi uma das vítimas do Cabo das Tormentas, que poderia ser o "homem do leme". 6- A narrativa do "homem do leme" demonstra a fala dos marinheiros.
Quem seria o homem do leme?b) O homem no leme representa o Rei de Portugal, que vai em busca do desconhecido no mar. Já o monstrengo é a representação de todos os medos do desconhecido.
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