Quando acaba greve dos bancos

CIDADES

Quinta-feira, 16 de Outubro de 2003, 21h:23 A A

TRABALHADORES

Funcionários da Caixa Econômica Federal e do Basa, no entanto, permanecem de braços cruzados

Funcionários do Banco do Brasil em Mato Grosso decidiram ontem à noite, em assembléia, encerrar a greve que paralisou os serviços de todas as agências da instituição em Cuiabá e em alguns municípios do interior por três dias. Segundo o sindicato, o Banco contemplou a categoria em pontos que divergiam da proposta da Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) e além disso iniciou discussões sobre o Plano de Cargos e Salários e isonomia salarial. Outro avanço importante foi o reajuste salarial, que não ocorria há oito anos. A evolução nos vencimentos será de 12,6%, além da concessão do abono de R$ 1,5 mil para todos os funcionários. Também foi definido o aumento no valor do auxílio-alimentação, que passou de R$ 150 para R$ 200. “Dessa forma entendemos que foi cumprido integralmente o acordo com a Fenaban”, avaliou o presidente do sindicato local Eduardo Alencar. O mesmo não valeu para os bancários da Caixa Econômica Federal, que não receberam propostas semelhantes dos patrões e, em razão disso, mantiveram a paralisação. Ontem, a mobilização passou a contar com o apoio dos bancários do Banco da Amazônia (Basa) em Mato Grosso, que decidiram cruzar os braços. Foram fechadas as agências do Basa em Cuiabá (avenida Getúlio Vargas), Rondonópolis e Cáceres, além de haver a possibilidade de adesão por parte dos bancários de Guiratinga, Barra do Garças e Tangará da Serra. “É provável que a paralisação permaneça pelo menos até esta sexta-feira”, informou Arilson Silva, membro da diretoria do sindicato. Nas agências da CEF em Cuiabá, o cenário era o mesmo do início da semana: portas fechadas e faixas de protesto colocadas na entrada de cada uma delas. Caixas eletrônicos só funcionaram em supermercados, lojas de conveniência e shoppings centers. Somados os funcionários do Basa e da CEF, o número de bancários em greve chega a 650 no Estado, de acordo com sindicato. Já os funcionários das agências do BB analisam a possibilidade de restabelecer o funcionamento normal ainda hoje em Cuiabá e no restante do país. O pagamento dos funcionários públicos do município, liberado esta semana, não sofreu grandes prejuízos, segundo o diretor do sindicato. “Houve algumas filas, mas de qualquer forma, os funcionários conseguiram sacar o dinheiro nos caixas que continuaram em operação, como o que está instalado na própria prefeitura”, disse Arilson Silva.

Os servidores do Banco Central retomam nesta-terça-feira (3), por tempo indeterminado, a greve por reajustes salariais e mudanças na carreira. A nova paralisação foi aprovada em assembleia deliberativa do Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central) e já havia sido anunciada na sexta (29).

O sindicato considera insuficiente a proposta do governo de dar um reajuste linear de 5% para todo o funcionalismo federal a partir de julho. Os salários de analistas do BC variam de R$ 19.197 a R$ 27.369.

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"As razões principais foram o descumprimento, por parte do presidente do BC [Roberto Campos Neto], da promessa de conseguir uma reunião entre o sindicato e o ministro Ciro Nogueira [Casa Civil], a não apresentação de uma proposta alternativa aos 5% [de reajuste] e a não apresentação de uma proposta sobre a parte não salarial de nossas demandas", afirmou na semana passada Fábio Faiad, dirigente do Sinal.

Os servidores do BC aprovaram a primeira etapa da greve em 1º de abril e, antes disso, já vinham promovendo paralisações, o que afetou a divulgação de estatísticas e indicadores e atrasou a implementação de projetos do banco. O movimento foi suspenso em 19 de abril, mas, na ocasião, os servidores haviam alertado que cruzariam os braços novamente caso não houvesse avanço nas negociações.

Mesmo com a greve suspensa, os funcionários continuaram a trabalhar em esquema de operação-padrão e a fazer paralisações diárias, das 14h às 18h.

Impactos

Segundo Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, as paralisações parciais e a primeira fase da greve impediram "uma série de trabalhos internos do BC", incluindo a compilação de estatísticas. Essa situação deve se repetir a partir desta terça, e a divulgação de dados econômicos sofrerá novos atrasos.

"Mas o BC permanece com aquela política de avisar [à imprensa] da retomada da publicação de estatísticas com pelo menos 24 horas de antecedência", disse na segunda (2), durante entrevista coletiva sobre estatísticas fiscais.

O UOL também procurou o Sinal para perguntar sobre possíveis impactos da nova greve, mas não teve resposta até a publicação deste texto.

Nos últimos dias, a apresentação de relatórios e estatísticas atrasadas foi retomada, como o boletim Focus (pesquisa semanal com instituições financeiras), o Relatório de Poupança e o fluxo cambial. O BC também já divulgou os relatórios de crédito —que revelam os juros médios das operações de crédito— e do setor externo (balanço das transações do Brasil com o exterior) relativos a fevereiro, mas as estatísticas de março seguem pendentes.

O desenvolvimento de projetos do BC, porém, continua suspenso. O início da segunda fase de consultas e saques de valores esquecidos em bancos, por exemplo, que aconteceria na segunda (2), foi adiado por tempo indeterminado. "A nova data será informada com a devida antecedência", informou a assessoria do BC ao UOL.

Reivindicações

Os servidores do BC reivindicam reajuste salarial suficiente para repor as perdas inflacionárias nos últimos anos, que chega a 27%. Eles também pedem a mudança da nomenclatura de analista para auditor e a exigência de nível superior para ingresso dos técnicos do BC.

Desde o início do ano, os funcionários do BC, assim como de outros órgãos federais, trabalham em esquema de operação-padrão em protesto, porque o Orçamento de 2022 destinou R$ 1,7 bilhão ao reajuste a forças de segurança. Os servidores do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), por exemplo, estão em greve desde 23 de março.

"Nós temos colegas [no INSS] que fazem 50, 60 horas por semana para conseguir cumprir as metas de produtividade. Mas nossos salários estão congelados há cinco anos. E aí o que o governo faz? O governo mantém o congelamento salarial e fica estipulando esses bônus de produtividade —que na prática não são bônus, são apenas uma complementação de renda, das perdas salariais dos últimos períodos", disse ao UOL Cristiano dos Santos Machado, diretor da Fenasps (Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Previdência e Assistência Social).

(Com Agência Brasil e Reuters)