Não vira em minha formosura, Ontem a vi por minha desventura Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me, Olhos meus, disse então por defender-me, Gregório de Matos Este soneto exemplifica a lírica amorosa de Gregório de Matos Guerra que é, fortemente marcada pelo dualismo amoroso CARNE X ESPÍRITO, que leva, normalmente a um sentimento de culpa no plano espiritual. A mulher, muitas vezes, é a personificação do próprio pecado, da perdição espiritual. Observa-se que, neste poema, a mulher – identificada inicialmente com a figura de um anjo o qual remete à pureza angelical contida no próprio nome ÂNGELA e depois com uma grandeza maior, – o SOL – é vista como um ser superior, dotado de grandezas absolutas e inacessíveis. Porém, o que se percebe nos tercetos é que, em vez de proteger – papel que caberia ao anjo, – a mulher, com sua beleza, leva-o ao desejo e, consequentemente, ao pecado. Por isso, o eu lírico, em um apelo dramático aos próprios olhos – centro de percepção visual e origem do desejo . – pede a eles que se ceguem. Do contrário ele será levado à morte, isto é, à perdição espiritual. Eis o drama amoroso do Barroco: o apelo sensorial do corpo se contrapõe ao ideal religioso, gerando sentimento de culpa. REFERÊNCIA: CEREJA, William Roberto Literatura Brasileira – 3ª edição – São Paulo: Atual, 2005. À mesma D. Ângela |