Como era a vida de pessoas portadoras de alguma deficiência no período primitivo?

M�dulo 1 - Fundamentos da Educ. Esp. I | Unidade A |

 UNIDADE A. História da Educação Especial
TEXTO INTRODUTÓRIO
Ao fim da unidade A esperamos que você alcance os seguintes objetivos:
 
  • Compreenda as relações estabelecidas na sociedade com a pessoa com deficiência desde a Antigüidade até os nossos dias.
  • Entenda os paradigmas que orientaram as práticas em Educação Especial durante esse período.

Diante do objetivo de compreender as relações sociais estabelecidas com as pessoas com algum tipo de deficiência, nessa unidade analisaremos as relações com base em três períodos da história: A Antigüidade, a Idade Média e a partir do século XVI aos dias de hoje, destacando alguns fatos considerados importantes em cada época especifica.

A.1 - A Antigüidade
Na Antiguidade, principalmente na Grécia antiga, onde a perfeição do corpo era venerada, as reações diante das pessoas com a pessoa com deficiência era o abandono, a eliminação ou o sacrifício. Em alguns lugares de Roma, podiam ser mortos ou submetidos a um processo de purificação para livrá-los de maus desígnios.
Assim como a loucura, a deficiência na Antigüidade oscilou entre dois pólos bastante contraditórios: ou um sinal da presença dos deuses ou dos demônios; ou algo da esfera do supra-humano ou do âmbito do infra-humano. Do venerável saber do oráculo cego à “animalidade” da pessoa a ser extirpada do corpo sadio da humanidade. Assim foi por muito tempo, em várias civilizações (ancestrais da nossa). (Amaral, 1994, p. 14).

Nesse período, a sociedade estava organizada em duas camadas sociais: a nobreza, que detinha o poder econômico; e o populacho, composto pelas pessoas consideradas subumanas e, geralmente, escravizadas. (MEC/SEESP, 2000).
Na sociedade grega, especificamente a ateniense, conhecida por priorizar a educação integral, a qual procurava formar um homem útil ao Estado, o próprio pai tinha o encargo de matar o filho ou abandoná-lo em algum local (Corrêa, 2004).

Como era a vida de pessoas portadoras de alguma deficiência no período primitivo?

Figura 1

Na sociedade romana, por sua vez, aqueles que nasciam com alguma deficiência podiam ser mortos ou então abandonados nas margens do rio Tibre. No entanto, escravos e outras pessoas pobres os recolhiam para, posteriormente, colocá-los a pedir esmolas, para servirem como bobos ou para trabalhar nos circos romanos (Corrêa, 2004).

A.2 - Idade Média
Na Idade Média, sob o respaldo da Igreja, a pessoa com deficiência era vista como de dois modos diferentes: como alguém que expiava um pecado ou como alguém que necessitava de caridade. A deficiência mental era concebida como desígnio de um ser superior, um castigo, uma culpa, ou ainda como sendo a possessão do corpo pelo demônio. Assim, os deficientes eram tratados de diferentes formas: ora eram rejeitados ora mereciam piedade; ora eram protegidos ou até mesmo supervalorizados; ora sacrificados ou ainda excluídos do convívio social.
Já que se acreditava que as estruturas sociais teriam sido supostamente constituídas por “leis divinas” sob a coerção da Igreja Católica, esta punia severamente aqueles que, a seus olhos, contrariassem-nas. Este papel persecutório viria a caber principalmente à Inquisição Religiosa, a qual sacrificou milhares de pessoas pretensamente heréticas, incluídas entre elas  muitas pessoas com deficiência mental.

Como era a vida de pessoas portadoras de alguma deficiência no período primitivo?

Figura 2

Com a difusão do Cristianismona Europa, as pessoas com deficiência começam a escapar do abandono. Surgiu o atendimento assistencial, ou seja, havia instituições que acolhiam os desprotegidos, infelizes ou doentes de toda a espécie. Essas instituições podiam ser conventos ou Igrejas. Mesmo assim, não tinham consideração para com os indivíduos que divergiam dos padrões de comportamento considerados comuns na época, pois estas instituições isolavam e escondiam.
A própria religião, com toda sua força cultural, ao colocar o homem como ‘imagem e semelhança de Deus’, ser perfeito, inculcava a idéia da condição humana como incluindo perfeição física e mental. E não sendo ‘parecidos com Deus’, os portadores de deficiência (ou imperfeições) eram postos à margem da condição humana. (Mazzotta, 1996, p. 16)

Ainda durante a Idade Média, o advento do feudalismo como novo meio de produção levou à ascensão de um outro grupo social: o clero. Com isso, a Igreja passou a influenciar e, conseqüentemente, a controlar os diversos setores da sociedade.
Ou seja, em uma sociedade em que as pessoas eram observadas como “imagem e semelhança de Deus”, aquelas que apresentassem alguma deficiência eram associadas ao demônio e, conseqüentemente, tornavam-se vítimas do descaso e da marginalização.

A.3 - Do século XVI aos dias de hoje
Durante a modernidade, percebemos a destituição do sistema feudal e, conseqüentemente, o surgimento do sistema mercantil, no qual se fortaleceram as relações entre a burguesia e o Estado. Nesse processo, a Igreja passou a perder o controle em diversos setores, principalmente no econômico, e as influências dos ideais humanistas moveram os olhares antes destinados à teologia para os valores antropocêntricos.
Com o advento da filosofia humanista na Idade Moderna, inicia-se a valorização do ser humano, O homem passa a ser entendido como um animal racional, há o surgimento do método científico, iniciam-se estudos em torno das tipologias de deficiências, a concepção de deficiência passa a decorrer do modelo clínico, empregando-se, assim, um caráter patológico, com medicação e tratamento.
Motivados por esses ideários, algumas pessoas começaram a contribuir para o rompimento com as concepções que ligavam a deficiência ao misticismo. Assim, essa concepção passou a relacionar-se com o aspecto médico-pedagógico. Buscaram-se as causas das deficiências, incorporando a essas pesquisas um caráter científico. Nessa perspectiva, procurou-se normalizar as pessoas com deficiência.
Dentre os pesquisadores que inovaram no tratamento da deficiência, podemos destacar:
- Jean-Paul Bonet, autor da primeira obra impressa sobre o assunto “Redação das Letras e Arte de Ensinar os Mudos a Falar”; (1620)
- Charles M. L’Epée, fundador da primeira instituição especializada para o ensino de surdos e criador do método dos sinais; (1770)
- Valentin Haüy, fundador do “Institute Nationale des Jeunes Aveugles” (Instituto Nacional dos Jovens Cegos); (1784)
- Charles Barbier, criador do código militar de comunicação noturna: processo de escrita codificada por pontos salientes representando os trinta e seis sons básicos da língua francesa; (1819)

Como era a vida de pessoas portadoras de alguma deficiência no período primitivo?

Figura 3

- Louis Braille, adaptador do código militar de Barbier para o sistema Braille, um código de leitura e escrita através do tato; (1829)

Como era a vida de pessoas portadoras de alguma deficiência no período primitivo?

Figura 4

- Jean Marc-Gaspard Itard, aluno de Philippe Pinel, que, no início do século XIX, dedicou-se à educação de Victor do Aveyron, o garoto selvagem, diagnosticando que o menino permanecia como um ‘selvagem’ devido à privação da convivência social e postulando um tratamento para sua recuperação e educação;

Como era a vida de pessoas portadoras de alguma deficiência no período primitivo?

Figura 5

- Maria Montessori também merece destaque, pois desenvolveu um programa de treinamento para crianças com déficit cognitivo (Mazzotta, 1996).
Na Idade Contemporânea, marcada pela Revolução Francesa, pela Revolução Industrial, pelas guerras mundiais, pelas guerras no território nacional, entre outros eventos históricos marcantes, a pessoa com deficiência precisava tornar-se produtiva para a sociedade. Assim, como na modernidade, ela necessitava ser normalizada ou receber treinamentos para executar algumas atividades no mercado de trabalho.
No Brasil, é somente no século XIX quealguns cientistas, inspirados nas experiências usadas na Europa e nos Estados Unidos, iniciam a organização de serviços para o atendimento de pessoas com deficiências. Assim, passa a haver a preocupação com esse tipo de educação, ainda que em instituições segregacionistas.
A sociedade, em todas as culturas, atravessou diversas fases no que se refere às práticas sociais. Ela começou praticando a exclusão social de pessoas que – por causa das condições atípicas – não lhe pareciam pertencer à maioria da população. Em seguida, desenvolveu o atendimento segregado dentro de instituições, passou para a prática da integração social e recentemente adotou a filosofia da inclusão social para modificar os sistemas sociais gerais (Sassaki, 1999, p. 16).

Dessa maneira, observamos a efervescência dos discursos sobre a integração e, posteriormente, sobre a inclusão. Em primeiro lugar, apareceram as propostas baseadas no modelo médico/psicológico. Em seguida, acompanhamos a construção de propostas preocupadas com os aspectos pedagógicos/metodológicos e, posteriormente, surgem propostas preocupadas em promover condições para a formação integral das pessoas com necessidades educacionais especiais.

                                                                                                                      
ATIVIDADE DA UNIDADE
            Como atividade dessa unidade, iremos iniciar a leitura da publicação do MEC “Projeto Escola Viva - Garantindo o Acesso e a Permanência de todos os Alunos na Escola - VISÃO HISTÓRICA”, vol. 1 (da página 1 até a página 12). O texto se encontra disponível on-line no site: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/cartilha01.pdf. Faça uma síntese histórica dos aspectos abordados sobre a situação do deficiente na Antiguidade, na Idade Média e durante o período que vai do século XVI aos dias de hoje e disponibilize no Diário de Bordo da Disciplina.

REFERÊNCIAS DA UNIDADE A

AMARAL, L. A. Pensar a diferença/deficiência. Brasília: Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), 1994.
BRASIL. MEC, Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Livro 1/MEC/SEESP. Brasília, 1994
___. MEC/SEESP. Projeto Escola Viva: garantindo o acesso e a permanência de todos os alunos na escola – Alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília, 2000.
CORRÊA, M. A. M. Educação Especial. Volume 1 – Módulos 1 a 4. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2004.
MAZZOTTA, M. J. S. Educação especial no Brasil: história e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 1996.
SASSAKI, R. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: WVA, 1999.

(GLOSSÁRIO) Antiguidade - foi o período que se estendeu da invenção da escrita (cerca de 4000 a 3500 a.C.) até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.)

(GLOSSÁRIO) Idade Média - A Idade Média foi um período de aproximadamente mil anos, que se caracterizou pelo predomínio do Cristianismo em todas as esferas da vida humana na Europa.

(ASSUNTO) Inquisição Religiosa – Para saber mais, visite o site http://www.suapesquisa.com/historia/inquisicao/.

(GLOSSÁRIO) Cristianismo - religião fundada pelos apóstolos seguidores de Jesus Cristo, o qual teria nascido por volta do ano 6 a.C, na cidade de Belém, na Judéia (Palestina).

(AUTOR) Marcos Mazzotta – Dentre suas publicações, destacamos o livro Educação Especial no Brasil – História e Políticas Públicas (1996).

(ASSUNTO) Feudalismo - O feudalismo é um modo de produção típico de sociedades agrárias, caracterizado por relações de servidão do trabalhador ao proprietário da terra, a qual é dividida em lotes produtivos auto-suficientes.

(ASSUNTO) Mercantilismo – O sistema mercantil é um conjunto de políticas econômicas que defendiam o fortalecimento do Estado. Para saber mais, acesse o link http://www.economiabr.net/economia/1_hpe2.html.

(GLOSSÁRIO) Teologia - Teologia, em seu sentido literal, é o estudo de Deus (do grego theos, "Deus"; logos, "estudo"). Foi usado pela primeira vez por Platão para referir-se à compreensão do divino por meio da razão.

(GLOSSÁRIO) Antropocentrismo – (do grego anthropos, “Homem”; do latim centrum, “centro”) é o pensamento que considera o Homem como o centro do universo.

(GLOSSÁRIO) Idade Moderna – Período entre a Idade Média e a Idade Contemporânea,  compreendido entre a tomada da Constantinopla, em 1453, e o início da Revolução Francesa, em 1789.

(GLOSSÁRIO) Misticismo – Misticismo é uma crença que admite a ligação entre o homem e o divino, o sobrenatural.

(AUTOR) Jean Marc-Gaspard Itard - Suas experiências com Victor foram registradas nos relatórios: “Da educação de um homem selvagem” (1801) e “Relatório para Sua Excelência o ministro do Interior sobre os novos desenvolvimentos do estado atual do selvagem de Aveyron” (1807).

(AUTOR) Philippe Pinel – Viveu na França entre 1745 e 1826, considerado o fundador da psiquiatria no seu país. Escreveu “Nosografia filosófica ou método de análise aplicada à medicina” (1798) e “Tratado Médico filosófico sobre a alienação mental” (1801).

(ASSUNTO) Educação – Para saber mais leia o livro: “A Educação de um selvagem: As experiências pedagógicas de Jean Itard” organizado por Luci Banks-Leite e Izabel Galvão. São Paulo: Cortez, 2000.

(AUTOR) Maria Montessori (1870 – 1952) - nasceu na Itália. O método montessoriano tem por objetivo a educação da vontade e da atenção, ou seja, a criança tem liberdade de escolher o material que vai utilizar, proporcionando também a cooperação.

(GLOSSÁRIO) Idade Contemporânea – Iniciada a partir da Revolução Francesa (1789). Teve seu início marcado pela corrente filosófica iluminista, que defendia a liberdade, o progresso e o homem.

(GLOSSÁRIO) Revolução Francesa (1789 – 1799) - representou a crise do Antigo Regime, aboliu a servidão e os direitos feudais na França e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade".

Como eram tratadas as pessoas com deficiência na era primitiva?

Assim, os deficientes eram tratados de diferentes formas: ora eram rejeitados ora mereciam piedade; ora eram protegidos ou até mesmo supervalorizados; ora sacrificados ou ainda excluídos do convívio social.

Como era a vida das pessoas com deficiência na Idade Média?

No início da idade média, os deficientes físicos e mentais eram frequentemente vistos como possuídos pelo demônio e eram queimados como as bruxas. A população ignorante encarava o nascimento de pessoas com deficiência como castigo de Deus. Os supersticiosos viam nelas poderes especiais de feiticeiros ou bruxos.

Como era visto a deficiência no decorrer da história?

Assim, como em outras culturas a deficiência era visada como uma maldição, castigo e infelizmente também ocorriam a prática da eliminação, como do abandono, isso nos mostra que independente de cultura, de contexto social, histórico e temporal, os deficientes sempre foram vistos como pessoas que não mereciam o direito a ...

Como eram vistas as pessoas com deficiência?

Tanto nas fases em que as pessoas com deficiência eram vistas como castigadas por Deus, quanto no Modelo Médico, em que eram tidas como um corpo com deficiência, frágil, inferior e incapaz, esses indivíduos se viam desconectados das suas potencialidades e dos conceitos de autonomia e independência, bem como de um ...