Como os racionalistas refutaram as concepções de linguagem dos empiristas

Em síntese

1. Qual é a importância da linguagem? Utilize as ideias filosóficas vistas neste capítulo para fundamentar sua resposta.

Para Aristóteles, a linguagem é que caracteriza o ser humano como um ser social e cívico, distinguindo-o dos outros animais. Para Rousseau, além dessa distinção, a importância da linguagem se deve à necessidade e ao desejo que o ser humano desenvolveu de se comunicar. Hjelmslev acrescenta ainda que "a linguagem é inseparável do homem, segue-o em todos os seus atos", não sendo apenas um simples acompanhamento do pensamento, "mas sim um fio profundamente tecido na trama do pensamento". A linguagem é, assim, a forma propriamente humana da comunicação, da relação com o mundo e com os outros, da vida social e política, do pensamento e das artes.

2. O que significa dizer que o mito manifesta a força realizadora da linguagem? Como se manifesta o poder encantatório da linguagem e do que ele decorre? Dizer que o mito manifesta a força realizadora da linguagem significa que, por meio dos mitos (narrativas), os seres humanos organizam a realidade e a interpretam, fazendo com que as coisas sejam tais como são ditas ou pronunciadas.

O poder encantatório da linguagem se manifesta em sua capacidade para reunir o sagrado e o profano, trazer os deuses e as forças cósmicas para o meio do mundo e levar os humanos até o interior do sagrado. Eis por que, em quase todas as religiões, existem profetas e oráculos. Esse poder, que atribuímos à linguagem, decorre do fato de que as palavras são núcleos, sínteses ou feixes de significações, símbolos e valores que determinam o modo como interpretamos as forças divinas, naturais, sociais e políticas e suas relações conosco.

3. O que são palavras-tabus? Ilustre sua resposta com alguns exemplos.

Um tabu é alguma coisa ou pessoa que não pode ser tocada, alguma palavra que não pode ser dita, algum gesto que não pode ser feito, pois a transgressão trará desgraças para o transgressor e, em certos casos, para o grupo inteiro. As palavras-tabus existem nos contextos religiosos e sociais de várias sociedades, sob os efeitos da repressão dos costumes, sobretudo os que se referem a práticas sexuais. Por exemplo, em muitas sociedades não se pode pronunciar a palavra demônio ou diabo; em outras, é o nome de deus ou de deuses que não pode ser dito. Mas as palavras-tabus também aparecem em contextos como as brincadeiras infantis, quando certas palavras são proibidas de serem ditas.

4. Como os racionalistas refutaram as concepções de linguagem dos empiristas? Explique cada uma delas e a refutação racionalista.

Embora aceitem que a possibilidade para falar, ouvir, escrever e ler esteja em nosso corpo (na anatomia e na fisiologia), os intelectualistas afirmam que a capacidade para a linguagem é um fato do pensamento ou de nossa consciência. Ela é um instrumento do pensamento para exprimir e transmitir conceitos, símbolos, ideias abstratas e valores, e não apenas um conjunto de imagens formadas por associação e repetição, como defendem os empiristas.

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Duas provas poderiam confirmar essa concepção da linguagem: o fato de que o pensamento procura e inventa palavras; e o fato de que podemos aprender outras línguas, porque o sentido de duas palavras diferentes em duas línguas diferentes é o mesmo, e tal sentido é a ideia formada pelo pensamento para representar ou indicar as coisas.

5. Como Merleau-Ponty refuta as concepções empirista e racionalista sobre a linguagem?

Empiristas e racionalistas têm uma concepção instrumental ou utilitarista da linguagem, recusada por Merleau-Ponty. Para o empirista, a linguagem é um conjunto de signos usados para indicar as coisas e usado com essa finalidade pelo pensamento; para o racionalista, a linguagem é apenas a tradução de pensamentos que existem antes dela e sem ela. Merleau-Ponty afirma que linguagem e pensamento nascem juntos e são impossíveis um sem o outro porque juntos criam e exprimem significações.

6. Quais são as quatro respostas dadas sobre a origem da linguagem? Escolha duas e explique-as com exemplos.

Quatro foram as principais respostas dadas sobre a origem da linguagem:

1. a linguagem nasce por imitação: os humanos imitam, pela voz, os sons da natureza. A origem da linguagem seria, portanto, a onomatopeia;

2. a linguagem nasce por imitação dos gestos, dotando-os de sentidos. Pouco a pouco o gesto passou a se acompanhar de sons, e estes foram se tornando palavras;

3. a linguagem nasce da necessidade: a fome, a sede, a necessidade de se reunir em grupo para se defender das intempéries, etc. levaram à criação de palavras. Gradativamente, esse vocabulário rudimentar tornou-se mais complexo e transformou-se numa língua;

4. a linguagem nasce das emoções, particularmente do grito (medo, surpresa ou alegria), do choro (dor, medo, compaixão) e do riso (prazer, bem-estar, felicidade).

Essas respostas não necessariamente se excluem. Ao contrário, muitos pesquisadores acreditam que elas sejam complementares.

7. De que modo a inteligência nos diferencia dos demais animais?

Como os animais, somos dotados de instinto e de hábito, que dão respostas automáticas e repetitivas aos problemas. Porém, os seres humanos são também dotados de inteligência, que difere do instinto e do hábito por sua capacidade de encontrar novos meios para um novo fim, ou de adaptar meios existentes para uma finalidade nova, pela possibilidade de enfrentar de maneira diferente situações novas e inventar novas soluções para elas. Nesse nível prático, a inteligência é capaz de dar uma função nova e um sentido novo a coisas já existentes, para que sirvam de meios a novos fins.

8. Qual é a diferença entre inteligência e pensamento?

A inteligência colhe, recolhe e reúne os dados oferecidos pela percepção, pela imaginação, pela memória e pela linguagem, formando redes de significações com as quais organizamos, ordenamos e damos sentido a nosso mundo e nossa vida. O pensamento abstrai os dados, separando-os das condições imediatas de nossa experiência, e os elabora na forma de conceitos, ideias e juízos, estabelecendo articulações internas e necessárias entre eles pelo raciocínio, pela análise e pela síntese.

9. Defina o que é teoria, dizendo de onde ela nasce e qual é sua utilidade para o conhecimento.

Teoria é explicação, descrição e interpretação geral das causas, formas, modalidades e relações de um campo de objetos, conhecidos graças a procedimentos específicos, próprios da natureza dos objetos investigados. A teoria pode ou não nascer de uma prática e pode ter ou não uma aplicação prática direta. A prática orienta o trabalho teórico e verifica suas conclusões, mas não determina sua verdade ou falsidade.

10. Quais são as principais finalidades do método para o conhecimento? Por que se diz que ele tem um papel regulador?

As principais finalidades do método são: conduzir à descoberta de uma verdade até então desconhecida; permitir a demonstração e a prova de uma verdade já conhecida; permitir a verificação de conhecimentos para averiguar se são ou não verdadeiros. O método tem um papel regulador do pensamento porque é ele que guia o trabalho intelectual (produção das ideias, dos experimentos, das teorias) e avalia os resultados obtidos.

11. Explique e diferencie o uso do método nas ciências exatas, nas ciências naturais e nas ciências humanas.

As ciências matemáticas ou exatas lidam com objetos que existem apenas idealmente e que são construídos inteiramente pelo nosso pensamento. O método próprio para elas é o dedutivo ou axiomático, porque o conhecimento parte de um conjunto de axiomas indemonstráveis que baseiam a construção e demonstração dos objetos.

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As ciências naturais observam seus objetos e realizam experimentos. O método próprio para elas é o indutivo, também chamado de experimental ou hipotético. Experimental porque se baseia em observações e experimentos; hipotético porque os cientistas partem de hipóteses sobre os objetos que guiam os experimentos e a avaliação dos resultados.

Já as ciências humanas têm como objeto o ser humano, um ser histórico-cultural que produz as instituições e o sentido delas. Tal sentido é o que precisa ser conhecido. O método adequado a elas é o compreensivo-interpretativo, porque seu objeto são as significações dos comportamentos, das práticas e das instituições produzidas pelos seres humanos.

12. Explique, dando um novo exemplo, de que forma o pensamento mítico persiste em nossa sociedade.

O pensamento mítico persiste em nossa sociedade por meio de reelaborações que a imaginação social faz do pensamento conceitual. Assim, o caráter mágico dado pelo senso comum à atividade médica e à ação dos medicamentos, dados como infalíveis mesmo quando os cientistas sabem que são suscetíveis à falha, ao erro ou ao desconhecido, são um exemplo dessa passagem da ciência ao mito.



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Como os racionalistas refutaram as concepções de linguagem dos empiristas explique cada uma?

Resposta. Resposta: embora os racionalistas aceitem que a possibilidade para falar, ouvir, escrever e ler esteja em nosso corpo (anatomia e fisiologia), eles afirmam que a capacidade para linguagem é um fato do pensamento ou de nossa consciência.

O que dizem os racionalistas sobre a linguagem?

Os racionalistas entendiam que para se compreender o processo da linguagem era preciso fazer um estudo levando em conta a mente, explorar o pensamento, portanto, eles faziam parte de uma concepção essencialmente mentalista, diferentemente dos empiristas que não consideravam a mente como componente fundamental para ...

Qual a concepção de linguagem para os empiristas?

No empirismo, a linguagem é objetivada e o sujeito inexistente. No intelectualismo, ela é operação essencialmente subjetiva e a posse do sentido é remetida ao sujeito pensante. Em outros termos, nos dois tratamentos dedicados à linguagem, a palavra não tem significação própria.