O mundo é complexo e, para melhor compreendê-lo, enquanto indivíduos ou sociedade, dispomos de diversas formas para adquirir e transmitir nossos conhecimentos. Eles podem ser de caráter científico, filosófico, crítico ou de senso comum. Neste texto, trataremos do conhecimento de senso comum que, como veremos, caracteriza-se pela tradição e pela praticidade. Publicidade O senso comum é uma expressão que ganhou diversos significados no
decorrer da história da filosofia. Para Aristóteles e os estoicos, indicava uma consciência sensorial global, isto é, “perceber as determinações sensíveis comuns a vários sentidos” (ABBAGNANO, 2007), como o movimento, o repouso, e as quantidades. Esta noção perdurou até o medievo, quando o senso comum ganha um sentido mais próximo a costumes e modos comuns de viver e falar. Mas é com o filósofo italiano Giambattista Vico (1668-1744) que o termo solidificou-se com o entendimento mais
próximo do que temos atualmente: um juízo sem reflexão. Para Vico, esse senso é uma característica que interliga todo o gênero humano. Hoje, entende-se por senso comum o conhecimento mais prático do que intelectual, ligado mais à tradição do que ao conhecimento crítico ou científico. O senso comum diferencia-se das ciências e do conhecimento crítico por não fazer uso de metodologias e sistematicidade, sendo ele um conhecimento mais espontâneo,
originado de crenças e da experiência cotidiana. A seguir, listamos algumas de suas principais características. Assim, embora seja um conhecimento válido e até importante para a construção social e cultural do ser humano, o senso comum dispensa algumas qualidades que o
distinguem de conhecimentos mais rigorosos e criteriosos, que buscam explicações universais e se debruçam em métodos sistemáticos e reflexões críticas. Como vimos, o senso comum é o conhecimento cotidiano e espontâneo, portanto está muito presente em nossas vidas. Abaixo, expomos alguns exemplos de como ele se apresenta no dia a dia. Desse modo, podemos notar que o senso comum, embora seja um conhecimento válido e muitas vezes importante, nem sempre é inofensivo por seu caráter pouco crítico. Por isso é importante estarmos em constante busca de informação e
conhecimentos que estimulem a crítica e a reflexão. Publicidade Senso comum e ciência possuem distinções que, em uma rápida análise, acabam por antagonizá-los. Ao contrário do primeiro, conforme as características já mencionadas neste texto, a ciência busca universalidade, ou seja, leis que se apliquem a todos os seres ou fenômenos que sejam seus objetos de estudo. Também procura relacionar estes fenômenos a outros, buscando correlações e repetições. Além disso, é objetiva, sendo o objeto estudado e submetido a testes para que seja conhecido por sua realidade, sem interferências de concepções pessoais do cientista ou pesquisador. Por fim, o conhecimento científico faz uso de linguagem e metodologia rigorosa, evitando ambiguidades e interpretações contraditórias. Mas será que, apesar das diferenças, é possível a coexistência de ambos os conhecimentos? Voltando no tempo, as ciências clássicas, consolidadas a partir do século XVII, foram consideradas, a princípio, como um conhecimento oposto ao senso comum. Por isso, sofreram grande resistência, principalmente da Igreja Católica, extremamente tradicionalista, para a qual o conhecimento principal advinha da fé e da experiência empírica aliada ao senso comum, também chamado de bom senso. Sendo assim, teorias como a da relatividade de Einstein causaram polêmica, consideradas demasiadamente abstratas e teóricas. Publicidade No entanto, isso não significa que as ciências tenham anulado o senso comum. Galileu Galilei, por exemplo, defendia ser possível conciliar ambas as formas de conhecimento. Para ele, a argumentação racional, relacionada aos fenômenos estudados pelas ciências, possibilitaria às pessoas dotadas de vontade e bom senso uma melhor compreensão de sua realidade – dessa maneira, não anulando, mas aprimorando o senso comum. Senso comum e culturaO conceito de cultura é, sem dúvidas, complexo. Historicamente, tanto no campo da antropologia quanto da filosofia, o conceito passou por vários sentidos. Para fins didáticos, nos ateremos a dois significados, um de cada campo de estudo, conforme caracterizados por Abbagnano (2007). O primeiro significado de cultura aproxima-se do conceito filosófico clássico de paideia. Nesse sentido, a cultura preocupa-se com a formação “autêntica e total” do ser humano. Este, para tornar-se culto, deve possuir espírito aberto e livre para compreender, ainda que não queira validar ou aceitar, ideias e crenças alheias. Também deve ter capacidade de escolha e abstração, para que sejam possíveis os confrontos e avaliações globais. Em outras palavras, neste conceito de cultura, é importante que “ideias gerais”, presentes na cultura, não sejam impostas ou aceitas com arbitrariedade ou passividade e, para tal, é imprescindível o espírito crítico. Pode-se interpretar o conceito de ideias gerais como o próprio senso comum, senão, como algo análogo. Ainda assim, quando tal entendimento de cultura afirma a necessidade do espírito crítico e da capacidade de abstração, evidencia-se que o conhecimento adquirido sem reflexão não caracteriza o homem culto, embora deva ser compreendido por ele. O segundo significado, mais utilizado entre sociólogos e antropólogos, indica um conjunto de tradições criadas, adquiridas e transmitidas entre gerações de uma sociedade. Cultura, portanto, é uma construção coletiva. Nesse sentido, o conhecimento do senso comum pode fazer parte dessa tradição transmitida de geração para geração. Afinal, é um conhecimento que caracteristicamente é passado e adquirido pela espontaneidade e dessa maneira persiste na tradição, podendo assim ser considerado um elemento cultural. Publicidade Senso comum e senso críticoSenso crítico, em geral, consiste no pensamento reflexivo que tem um objetivo direcionado, que busca chegar a uma conclusão por um conhecimento construído pelo intelecto disciplinado, racional e cuidadoso. Costuma ser um ideal educacional, fazendo com que os alunos busquem razões e explicações, além de desenvolver sua autossuficiência. Dewey (1933) identificou cinco fases, ou passos, para a construção do senso crítico:
Deste modo, o sujeito parte de uma situação confusa e problemática para uma situação esclarecida e resolvida. Até aqui, já deve estar evidente a diferença entre senso comum e senso crítico. O senso comum, por sua própria definição de conhecimento sem grandes reflexões e esforços por parte de quem o recebe, dispensa todos esses passos para alcançar uma solução. No entanto, conforme a proposta de Galileu, na qual a explicação racional das ciências auxilia o sujeito a melhor compreender sua realidade, é possível que um conhecimento parta do senso comum para o senso crítico, conforme a disposição do indivíduo. Assim, é possível pensar na coexistência e no equilíbrio entre ambas as formas de conhecimento. Vídeos sobre sendo comumApós apresentarmos os fundamentos básicos e exemplos para a compreensão das principais características do senso comum, selecionamos alguns vídeos para complementar seus estudos. Senso comum e senso críticoAfinal, beber leite com manga faz mal? Em uma breve aula, a professora Bárbara lista as principais características do senso comum e do senso crítico. Senso comum e ciênciaNeste vídeo, o professor Américo Neto explica de maneira simples e didática as principais diferenças entre essas duas formas de conhecimento. Sócrates e a atitude filosóficaSócrates é conhecido por seu espírito questionador. Aqui, o professor Bruno Nunes conta a história deste célebre filosofo para ilustrar a postura de uma atitude filosófica e da crença do senso comum. Os perigos da desinformaçãoEm uma reflexão sobre a conjuntura, a professora Juliana Rossa faz uma análise dos riscos do senso comum e da desinformação no enfrentamento a uma pandemia. O preconceito comumCom bom humor, as jornalistas Natália e Maristela do canal Papo de Preta desconstroem algumas das principais frases de senso comum da nossa sociedade que instigam racismo, machismo e homofobia. Como visto, o senso comum é uma forma de conhecimento que, apesar de ser um elemento cultural importante, por possuir caráter pouco reflexivo, exige ponderação e equilíbrio de quem o transmite e de quem o recebe. Afinal, é tênue a linha entre o inofensivo conhecimento adquirido sobre costumes corriqueiros de nossos antepassados e preconceitos enraizados há gerações em nossa sociedade. Para aprender mais sobre as outras formas de conhecimento citadas neste texto, confira também nosso conteúdo sobre Senso Crítico e Conhecimento Científico. ReferênciasABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. – 5ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2007. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. – 4ª ed. – São Paulo: Moderna, 2009. DEWEY, John. How We Think: A Restatement of the Relation of Reflective Thinking to the Educative Process. Lexington, MA: D.C. Heath, 1933. HITCHCOCK, David. Critical Thinking. The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Fall 2018 Edition), Edward N. Zalta (ed.). Disponível em: https://plato.stanford.edu/archives/fall2018/entries/critical-thinking/ Acesso em: 14 de julho de 2020. PATY, Michel. A ciência e as idas e voltas do senso comum. Scientiae Studia, vol. 1, n. 1, 2003, pp. 6-26. Como referenciar este conteúdo Carmello, Thaís Bravin. Senso comum. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/senso-comum. Acesso em: 29 de December de 2022. 1. [Instituto Excelência – Prefeitura de Matão/SP] A respeito do senso comum assinale verdadeiro ou falso: Resposta: A 2. [UEM] “Há muito tempo o conceito de ciência faz parte das culturas mais antigas, geralmente para indicar algum tipo de conhecimento teórico superior. O significado variou conforme a época ou o pensador, mas apenas no século XVII configurou-se o conceito moderno de ciência, quando Galileu estabeleceu os novos métodos de investigação da física e da astronomia. […] Ao afirmarmos que a ciência é conquista recente da humanidade, a indagação que nos vem à mente é sobre que tipo de conhecimento existia antes da revolução científica. Pois é inevitável reconhecer as inumeráveis conquistas técnicas das civilizações, em todos os tempos. Ou seja, antes de a física se tornar uma ciência, diversos povos já sabiam como fazer as embarcações flutuarem, como construir palácios, aquedutos, sistemas de irrigação. […] As civilizações desenvolveram o conhecimento e a técnica conforme o senso comum, pelo uso espontâneo da razão e da imaginação. Às vezes, por tentativa e erro, outras vezes, por dedução ou indução. E, por fim, pela tradição que acumulava o saber de cada povo, tornando-o cada vez mais elaborado” (ARANHA, M. L. de A. Filosofar com textos: temas e história da filosofia. São Paulo: Moderna, 2012, p. 170-171). Com base nas afirmações acima e nos conhecimentos sobre ciência e senso comum, assinale o que for correto. 01) O método científico fundamenta-se pelo processo de tentativa e erro, dedução e indução. Resposta: 10 (2+8) 3. [Instituto AOCP – SEE/PB] Pode-se afirmar que há uma multiplicidade de conhecimentos, desde aquele conhecimento presente no cotidiano de cada
indivíduo até aquele conhecimento desenvolvido nas diversas instituições de ensino, bem como nas comunidades científicas existentes no mundo em geral. Um modo didático e pedagógico de compreender os conhecimentos em geral seria separá-los em dois grandes grupos: senso comum e conhecimento científico. Sobre esse tema, assinale a alternativa correta. Resposta: D 4. [UENP] Sobre a
relação entre senso comum e conhecimento científico, considere as afirmativas a seguir. Resposta: D Em que se baseia o conhecimento do senso comum?O senso comum é obtido por meio de conhecimentos empíricos que acumulamos ao longo da vida, sendo passados de geração em geração. Não se baseiam no método científico.
O que é correto afirmar sobre o senso comum?R: 3) Sobre o senso comum é correto afirmar? I. Remete ao tipo de experiência que é propriamente humana e por intermédio da experiência, o homem pode exercer virtudes, como a prudência e a paciência e aprender a não se deixar levar por aventuras emocionais, que o desviam para a irracionalidade.
O que é o senso comum para a filosofia?O Senso Comum é a soma dos saberes do cotidiano e é formado a partir de hábitos, crenças, preconceitos e tradições. Na filosofia, o termo é utilizado para explicar as interpretações feitas pelos indivíduos à realidade que os cercam sem estudos prévios ou provas científicas.
O que é senso comum é um exemplo?Exemplos de senso comum
Este é um exemplo de uma crença vinda dos mais antigos. Não existe estudo científico que comprove esse fato, mas existe a crença de que isso é verdade; O número 13 é considerado um número de azar, principalmente quando cai na sexta-feira. É uma crença que foi fixada, mas nunca teve comprovação.
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