Há alguma relação entre o sistema cardiovascular e o sistema digestório

Por que falar de descolonização do pensamento? Porque mantemos os grilhões da colonização europeia presos em nossos pulsos por meio da produção intelectual e cultural. Mais que liberdade política, precisamos de liberdade intelectual para perceber que nós, brasileiros, latino-americanos, africanos, asiáticos, também pensamos. Assista ao nosso vídeo para entender melhor o que é descolonização do pensamento!

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Paulo Chaccur

Paulo Chaccur

Diretor da Cirurgia Cardiovascular no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, é formado pela Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e possui mais de 40 anos de experiência.Na década de 90, Chaccur passou a liderar a própria equipe de cardiologia e cirurgias cardíacas no HCor (Hospital do Coração).

Colunista de VivaBem

13/11/2022 04h00

Sabe aquela sensação de barriga cheia mesmo quando você come pouco? Se somada a ela vem também a queimação, azia, gases, arrotos, barriga inchada, desconforto e dores abdominais é possível estar enfrentando uma congestão alimentar.

Trata-se de um mal-estar súbito causado pela dificuldade do organismo em realizar o processo de digestão. Isso ocorre, especialmente, ao fazermos alguma atividade que demande esforço físico logo após a refeição.

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Para se ter ideia, nosso sistema digestivo, de modo geral, recebe entre 20% a 25% do sangue oxigenado bombeado pelo coração. Após uma refeição, essa quantidade chega a ser o dobro. Isso quer dizer que o coração, nesse momento, precisa trabalhar mais para suprir a demanda.

Cenário que pode ocasionar em um aumento significativo da frequência cardíaca, por exemplo, após refeições fartas e ricas em calorias. Os batimentos mais rápidos são, portanto, uma reação normal do corpo para bombear mais sangue ao trato gastrointestinal a fim de digerir e aproveitar todos os nutrientes ingeridos.

No entanto, após as refeições há casos diagnosticados de taquicardia (batimentos acelerados). Como referência: a frequência cardíaca varia normalmente de 60 a 80 batimentos por minuto. Quando é superior a 100, recebe o nome de taquicardia. A condição é rara e, para aqueles que a experimentam, é possível que venha acompanhada de um quadro de ansiedade e estresse.

Ainda sobre a relação entre digestão e saúde cardiovascular, vale salientar que um coração enfraquecido ou doente não tem a capacidade de enviar sangue suficiente para o sistema digestivo, o que pode causar, ao longo do tempo, problemas no processo.

E o contrário também acontece?

Sim, falhas no sistema digestivo também têm impactos no coração. Problemas gastrointestinais, complicações e doenças inflamatórias que afetam o intestino podem fazer o coração sofrer as consequências. Especialmente se acontecerem com frequência.

Quando alguém tem uma doença inflamatória na região, a barreira intestinal é afetada e, consequentemente, o sistema imunológico não protege o corpo propriamente contra bactérias perigosas —e as substâncias químicas por elas produzidas.

Uma vez que entram na corrente sanguínea, são capazes de causar uma reação inflamatória onde quer que cheguem, inclusive nos vasos sanguíneos e no coração, e assim provocar, interferir ou agravar condições cardiovasculares.

E isso inclui até mesmo uma insuficiência cardíaca crônica (quando o coração não consegue bombear sangue suficiente para atender às necessidades do corpo), além de eventos graves, como infarto e AVC (acidente vascular cerebral).

Cuidado para não confundir!

Confundir o infarto com uma indigestão ou com uma congestão é mais comum do que parece. Uma dor aguda que atinge o peito, causa sensação de ardor ou queimação na região do coração pode ser resultado de azia (refluxo ou indigestão ácida) ou outra questão gastrointestinal envolvendo esôfago, estômago e intestinos.

Para exemplificar: a azia acontece quando o ácido estomacal flui de volta ao esôfago. Como o órgão está localizado próximo ao coração, muitas vezes é difícil reconhecer de onde vem a dor. O equívoco pode ser gerado ainda em decorrência de um espasmo muscular no esôfago ou a dor de um ataque da vesícula biliar (especialmente após uma refeição gordurosa).

O excesso de gases é outra causa frequente de dor na região do tórax e em pessoas com obstipação intestinal (prisão de ventre). Com indicadores muito similares aos da angina (dor no peito), costuma ser mais um motivo de confusão. Dependendo do quadro pode gerar um grande mal-estar e desconforto e até a compressão de alguns órgãos abdominais.

Tempo para a digestão

Comer previamente a prática de atividades físicas requer atenção e certos cuidados. Em grande parte dos casos é recomendado abastecer os depósitos de energia antes de começar um exercício. No entanto, o tempo de intervalo entre a refeição e o início da atividade bem como a quantidade e o tipo de alimento variam e devem ser avaliados individualmente.

De forma resumida, após a refeição, os alimentos entram no estômago e são lentamente processados e liberados no intestino delgado em pequenas quantidades. Geralmente, esse processo leva de 2 a 4 horas. Embora seja desnecessário esperar até que a comida esteja totalmente digerida antes de se exercitar, é importante dar algum tempo para que ela seja liberada do estômago.

Para a maioria das pessoas, o período de 1 a 2 horas é suficiente após uma refeição completa de tamanho moderado. Já o intervalo de 30-45 minutos depois de um lanche ou uma refeição leve, normalmente, basta. Vale reforçar, porém, que à medida que a intensidade do exercício aumenta, cresce da mesma forma o risco dos efeitos da congestão.

A proporcionalidade também ocorre com a quantidade de alimentos. No geral, quanto maior a refeição, mais tempo levará para ser digerida, aumentando o intervalo que devemos esperar antes de nos exercitar. Além disso, a composição da refeição afeta o tempo de digestão: o que se come é tão relevante ao quanto se come, já que a qualidade dos alimentos desempenha igualmente um papel significativo no processo digestivo.

Porém, aqui entram muitas exceções, a exemplo de pessoas que se exercitam logo pela manhã e se sentem bem sem comer nada ou no caso de diabéticos ou hipoglicêmicos, que precisam de atenção especial quanto ao que ingerem.

Por isso, novamente, as avaliações e recomendações devem atender a cada indivíduo assim como cada plano de atividades. O importante é se certificar de que o corpo esteja preparado e pronto para o esforço físico, hidratado e com energia suficiente para se exercitar.

O que fazer em casos de congestão?

Ao desconfiar de uma congestão alimentar, a recomendação é interromper imediatamente a prática de exercícios ou o esforço físico iniciado após a refeição e tomar pequenas quantidades de água para hidratar e ajudar no processo digestivo. Além disso, se possível, sentar ou deitar até o alívio dos sintomas.

O repouso permite que o fluxo sanguíneo volte a ser concentrado para a digestão dos alimentos. Em casos de mal-estar intenso, com vômitos frequentes, frequência cardíaca acelerada, dores fortes, alteração na pressão arterial e desmaios, o ideal é buscar atendimento médico.

Qual a relação do sistema digestório com o cardiovascular?

Qual a relação entre o sistema cardiovascular com o sistema digestório e o sistema respiratório?