O que é fragmentação dos ecossistemas?

O que é paisagem 

Bertrand define a paisagem como sendo a porção do espaço formada pela combinação dinâmica dos elementos bióticos, abióticos e antrópicos (Paisagem e Geografia Física Global - Esboço Metodológico, Caderno de Ciências da Terra, 13), ou seja, não se trata somente da paisagem “natural” mas sim da paisagem total, a qual é composta por uma dimensão horizontal - formada pelas unidades de uso e cobertura da terra - e uma dimensão vertical, a qual é formada por componentes e respectivas relações do ecossistema, como fluxo de matéria e energia existentes entre clima, solo (e componentes relacionados, como relevo e litologia) e biota.

A paisagem é formada por tipologias (cobertura vegetal, pastagens, plantações, edificações), podendo existir paisagens de caráter mais homogêneo e outras compostas por um mosaico de fitofisionomias e/ou tipos de uso. A análise dessas se faz conforme a escala de observação e estudo.

A paisagem é um sistema que pode se encontrar em equilíbrio ou em diferentes estados de equilíbrio, conforme o grau de perturbação que a afeta e a resiliência dela em relação a tal. A remoção de grandes extensões de vegetação, p ex, leva a mudanças significativas nos processos do ecossistema, buscando esse um novo nível de equilíbrio em uma condição diferenciada da anterior. Também, como coloca Tricart (Ecodinâmica), a dinâmica dos meios podem se apresentar estáveis, instáveis ou podem ser transitórios e intermediários.

Padrões e componentes na paisagem fragmentada

A fragmentação é a repartição de uma paisagem, antes contínua, em porções distintas. Considerando-se uma paisagem natural, quando ocorre a fragmentação tem-se a subdivisão da vegetação remanescente em fragmentos e a introdução de novas formas de uso da terra para substituir a vegetação que foi suprimida.  As paisagens fragmentadas diferem no tamanho e forma dos fragmentos e na sua configuração espacial.

Com relação à vegetação e a ação antrópica sobre essa, pode-se ter paisagens intactas  (presença da maior parte da vegetação original com pouca ou nenhuma modificação), paisagens variegadas (vegetação original dominante, mas com acentuados gradientes de alteração), paisagens fragmentadas (em que os fragmentos de remanescentes formam um componente menor em uma paisagem dominada por outros usos da terra) e paisagens relíquias (<10% de cobertura de vegetação original, inserida em áreas altamente modificadas em seu entorno). A análise da fragmentação (e consequentes implicações ecológicas) deve considerar o fator escala.

Os elementos estruturais fundamentais na análise da paisagem fragmentada são: o fragmento, corredores e matriz. Essa é uma abordagem básica, na qual os fragmentos se encontram distribuídos ao longo da matriz paisagística, isolados ou conectados por corredores.  A análise de tais elementos se faz por meio de diversas métricas, extraídas a partir de mapeamento dos elementos de uso/cobertura gerado por meio de imagens orbitais, aéreas ou em sensores a bordo de drones, conforme a escala adotada.

Os efeitos da fragmentação na paisagem

Diferentes espécies têm diferentes atributos com relação à escala e direção de seu deslocamento, longevidade e relações com o habitat e, portanto, possuem diferenças em suas capacidades de adaptação e sobrevivência a uma alteração na paisagem.

A área, o isolamento dos fragmentos e distanciamento entre esses são de grande importância ecossistêmica. O tamanho do fragmento correspondente à cobertura vegetal é inversamente proporcional ao nível de perturbação sentido por essa.  Com relação ao isolamento e distanciamento, os efeitos desses resultam no aumento ou redução do fluxo gênico, bem como no fator de reprodução e a perpetuação de espécies (Forman, em Land Mosaics: The ecology of Landscapes and Regions). As diferentes reações que as espécies possuem em relação à mobilidade entre os vários fragmentos na paisagem e como se aproveitam desses têm que ser consideradas pelos gestores de conservação, o que requer uma compreensão das propriedades desejáveis de paisagens inteiras e não apenas de fragmentos dessas.

O maior impacto nos fragmentos de uma paisagem ocorre em seus limites - o chamado efeito de borda - sendo que os menores fragmentos de remanescentes, bem como aqueles com estruturas e formas mais complexas, sentem mais fortemente tal efeito. Citando como exemplo a borda entre uma floresta e a área adjacente que sofreu remoção, o microclima em tal transição de gradiente abrupto de cobertura difere daquele do interior da floresta, tendo alterados os atributos como luz incidente, umidade, temperatura do solo e do ar e velocidade e escoamento do vento, o que afeta os processos biológicos, como decomposição da serapilheira e o ciclo de nutrientes. Dessa forma, é necessário adotar medidas que criem a conectividade entre fragmentos, produzindo redes interligadas de habitat, as quais beneficiarão a conservação da biota, além de demais serviços ambientais, como contenção de erosão, entre outros (Bennett e Saunders: Habitat Fragmentation and Landscape Change, em Conservation Biology for All).Tais conexões são engendradas por meio de proteção de recursos já existentes (vegetação ribeirinha, p ex), restauração de condições ambientais em áreas degradadas ou criação de novas condições em áreas totalmente alteradas, modificando-as com reimplantação de vegetação nativa antes existente, p ex.  Tipos e estágios diferentes ao longo da trajetória de fragmentação de uma paisagem apresentam diferentes tipos de desafios para a gestão da conservação.

 A (Re)composição da paisagem e suas relações com o indivíduo e a sociedade

Conforme Tuan (Espaço e Lugar: A Perspectiva da Experiência), os animais estabelecem relações espaciais desde cedo, sendo  que na espécie humana essas incluem o sentimento e o pensamento, ou seja, a experiência do indivíduo ou do grupo com o espaço vivenciado, o qual passa a ser dotado de valores.

A percepção ambiental é um processo mental, surgido da experiência, do interesse e da necessidade, pelo qual se estrutura a interface com a realidade espacial, recebendo e atribuindo significados às informações advindas dessa realidade (Tuan, Topofilia: Um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente e del Rio e Oliveira, Percepção Ambiental: a Experiência Brasileira). Cada indivíduo ou grupo enxerga e interpreta o meio ambiente com o qual tem contato conforme seu olhar, suas experiências, relações afetivas, expectativas e ansiedades.

Como observa Diniz (Ocorrência e Riqueza da Mastofauna com Percepção Ambiental dos Moradores em Pequenas Propriedades do Cerrado) a percepção é um conjunto complexo de  produção vivência com a natureza . Esse autor constatou que a convivência com os animais silvestres e a percepção ambiental de uma comunidade rural analisada por ele  evidenciou a necessidade de um trabalho para promover maior ligação de tal comunidade com a fauna, mostrando, pelo menos de um ponto de vista utilitarista, que essa está diretamente relacionada aos serviços ecológicos.

Diniz destaca, ainda,  que a conservação ambiental precisa ser vista como projeto tanto coletivo como individual e/ou familiar. As mudanças de práticas, valores e da própria percepção bem como os protocolos para efetivar tal conservação (procedimentos, regras, restrições) precisam ser assimiladas pelas pessoas e as áreas protegidas devem criar uma forma de vínculo com a população, o que irá gerar o sentido de um patrimônio comum.

As áreas naturais em meio urbano caracterizam-se como um elemento paisagístico com funções ambientais e sociais e, analogamente aos sistemas ILPF, deve-se visar um sistema integrado, combinando vegetação nativa, atividade econômica, equipamentos de lazer e transporte, servindo ao fluxo e integração de animais, pessoas e serviços ecossistêmicos e ambientais em geral, como conforto térmico, drenagem de águas pluviais, dispersão de sementes pela fauna, manutenção da fauna de subsolo (importante para a porção edáfica da estrutura pedológica), entre outros. Áreas preservadas e interligadas podem conjugar aspectos físicos da paisagem com aqueles socioeconômicos e mobilidade (comércios, vias de passagens para locais de trabalho), bem como aspectos culturais e psicológicos (recreação, relações afetivas, etc).

Conectividade entre fragmentos da paisagem e as Soluções baseadas na Natureza  (SbN)

O desenvolvimento imobiliário pode exercer grandes pressões ambientais às áreas naturais urbanas, tanto suprimindo totalmente quanto removendo parcialmente ou, ainda, degradando a estrutura e estratos da fitofisionomia. O efeito dessas pressões é, também, o aumento da densidade de fragmentação nessas áreas naturais e redução da conectividade entre os fragmentos. Com relação a isso, além das medidas já historicamente adotadas para a preservação, como áreas de APP´s e de UC´s, compõem-se as àquelas relacionadas a SbN, definidas como sendo inspiradas, apoiadas ou copiadas da natureza, as quais, inclusive, podem vir a promover a integração com as primeiras. As SbN são uma forma de se associar à natureza, por meio de um conjunto de ações que visam proteger, gerenciar e restaurar os ecossistemas naturais ou modificados, de forma sistêmica e adaptativa, visando benefícios de bem-estar social e equilíbrio biótico e abiótico do sistema (Cohen-Shacham et al.: Nature-based Solutions to Address Global Societal Challenges).

Todas essas iniciativas de preservação ou recuperação de áreas naturais no meio urbano podem ter, conforme o tipo implementado, objetivos polifuncionais, atendendo a objetivos diversos, tanto físicos (absorção de carbono, ciclo hidrológico, estabilidade de talude, habitat de espécies e biodiversidade) quanto socioeconômicos e socioambientais, tais como estímulo de comércio, valorização de imóveis, lazer, ações educacionais, integração social e, inclusive, produção de alimentos, por meio de hortas e pomares. A escala e o propósito devem orientar o planejamento e concretização de tais medidas (Soluções baseadas na Natureza para a Resiliência Urbana na América Latina, edição especial Revista Labverde, 11/1).

Os tipos de SbN podem ser classificados como (Soluções baseadas na Natureza para a Resiliência Urbana na América Latina, edição especial Revista Labverde, 11/1):

1 - áreas protegidas e preservadas, que exigem pouca ou nenhuma modificação nos ecossistemas existentes, mantendo ou melhorando os serviços ecossistêmicos já gerados, papel cumprido pelas UC´s, p ex,  como os manguezais em áreas costeiras, cuja função é amortecer eventos climáticos extremos, gerando, conjuntamente,  benefícios para a comunidade local.

2- intervenções desenhadas com a finalidade de intensificar a multifuncionalidade de serviços prestados por ecossistemas ou paisagens, como, p ex,  a restauração em áreas degradadas de nascentes ou a prática de agroflorestas, medidas que contribuem para a manutenção e equilíbrio da rede de drenagem e da cobertura pedológica, da diversidade genética, entre outras questões,  proporcionando, consequentemente, resiliência a eventos extremos.

3- criação de novos ecossistemas nos locais cuja paisagem natural foi suprimida por completo, por meio de instalação de infraestruturas (como os jardins de chuva e biovaletas), plantio de pomares e jardins em vias e canteiros, medidas essas com funções relacionadas à permeabilidade de águas pluviais, fluxo e abrigo de fauna, atenuação térmica das ilhas de calor, entre outras questões presentes no meio urbano.

Entre as medidas que conjugam serviços ambientais e objetivos sociais, têm-se os parques lineares.  A implantação de tais parques (os quais constituem um tipo de SbN) atribuem uma certa unidade à paisagem, promovendo fluxo de espécies e acessibilidade à sociedade, uma vez que conecta espaços até então fragmentados e isolados dentro do meio urbano. Esses parques, compostos por áreas verdes, presença da água, trilhas e vias para pedestres e ciclistas, proporcionam a democratização de espaços e favorecem o convívio.

Entretanto, é necessário que tais medidas (bem como outras aplicações SbN) sejam acompanhadas de uma participação da sociedade, de educação ambiental, bem como de fiscalização da manutenção desses, a fim de se evitar vandalismo e garantir a manutenção de tais áreas. Falhas nos desenhos de projetos e gestão levam ao abandono e degradação da área. O envolvimento da comunidade e a gestão participativa dessa ajuda a criar uma ligação maior com tais áreas (Nagano e Gonçalves, A experiência Paulistana em Parques Lineares, em Paisagem e Ambiente,42). O monitoramento e contenção de ações depredatórias fazem-se necessários também.

Dessa forma, um projeto de aplicação de SbN deve considerar as metas bióticas e abióticas, as metas econômicas e sociais, desenho adequado do projeto, análise da percepção ambiental da comunidade, medidas de educação ambiental (a qual é auxiliada pelos fatores logo anteriormente citados) e envolvimento da comunidade na gestão e manutenção da área.

O que é fragmentação de ecossistemas?

Fragmentação de habitats é o fenômeno onde uma área grande e contínua de um habitat específico é diminuída e/ou dividida em duas ou mais áreas. Essas novas áreas menores, separadas umas das outras por ambientes diferentes do original (muitas vezes degradados, ou construções humanas), acabam se tornando mais isoladas.

O que é o processo de fragmentação?

Fragmentação. A fragmentação é o processo de reprodução assexuada em que o indivíduo inicial se divide em duas partes e, se ambas as partes forem grandes o suficiente, cada uma delas se regenerará originando um novo indivíduo.

Qual é a importância da fragmentação de ecossistemas?

A fragmentação do habitat implica em redução da abundância local de espécies, e um aumento do isolamento entre populações, junto com as mudanças ambientais, afetando deste modo, muitos processos ecológicos das populações e comunidades (Rathcke & Jules 1993).

O que é fragmentação e exemplos?

Fragmentação ou regeneração: consiste na capacidade de um organismo formar outro com base em um fragmento de seu corpo. Equinodermos e platelmintos são grupos de animais que apresentam essa capacidade. A estrela-do-mar, por exemplo, quando danificada, pode regenerar-se, e a parte perdida origina um novo ser.