Para que a escola atenda às necessidades dos alunos com altas habilidades superdotação é necessário?

A Educação Especial é uma modalidade da Educação Inclusiva oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação, através do Atendimento Educacional Especializado – AEE – isso segundo a lei nº 12796 de 2013.

O atendimento a alunos com necessidades educacionais especiais é orientado atualmente pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. A partir desse documento foram elaboradas resoluções, normativas, notas técnicas que tratam das particularidades e especificidades desse público, como por exemplo a Nota Técnica nº 04 2014, que define:

Alunos com altas habilidades/ superdotação: aqueles que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade. (MEC/ SECADI/ DPEE, 2014, p. 3)

Na perspectiva de Giddens o sistema educacional seria um “sistema perito”, pois entende-se por sistemas perito aqueles sistemas de excelência técnica ou competência profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que vivemos hoje. (GIDDNES, 1991, p. 29)

Como uma das grandes áreas desse sistema perito há a Educação Especial, que atende a certas especificações, dentre as quais estão as altas habilidades/ superdotação. Esse atendimento é realizado seguindo as orientações da política nacional que define:

O Atendimento Educacional Especializado tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos considerando suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas a escolarização. Esse atendimento complementar e/ou suplementar a formação dos alunos com vista à autonomia e independência na escola e fora dela. (MEC/ SEESP, 2008, p. 10)

Apesar do Atendimento Educacional Especializado atender a todo público com necessidades educacionais especiais, há um número muito maior de alunos com transtornos e deficiências que são atendidos, do que de alunos com altas habilidades/ superdotação. Segundo a pesquisadora Zenita Cunha Guenther, cerca de 3% a 5% da população compreendem pessoas com elevado grau de talento e capacidade, em alguma área. No entanto, o que se vê nas escolas é esse percentual ser preenchido somente com o atendimento aos transtornos e deficiências. São poucos os casos de alunos com altas habilidades/ superdotação nas salas de AEE, e a identificação desses se dá somente quando apresentam elevado desempenho acadêmico, característica melhor observada pelos professores em sala de aula. No entanto, existem diversos outros domínios de capacidade além da inteligência, há também a criatividade, o domínio sócio afetivo, domínio físico, domínio perceptual. Sendo assim, um trabalho voltado para a identificação é urgente e necessário. Partindo dessa necessidade é preciso salientar que para que o professor possa identificar esse aluno em sala de aula, ele precisa ter conhecimento sobre o tema, saber que características, além das acadêmicas, essa criança pode apresentar. Mas nem sempre os profissionais envolvidos no contexto escolar, tem clareza e entendimento em relação essas características e muitas dessas crianças são mal interpretadas ou nem percebidas nas escolas. Existem diversos mitos e ideias equivocadas que atrapalham a identificação, como por exemplo a ideia de que um aluno superdotado apresenta desempenho superior em todas as áreas do conhecimento, que são emocionalmente instáveis, que não precisam de acompanhamento, pois “aprendem sozinhos”. Laraia (2001) traz o exemplo de Santos Dumont, que demonstra o quanto as condições oferecidas têm influência no desenvolvimento das potencialidades:

Não basta a natureza criar indivíduos altamente inteligentes, isso ela o faz com frequência, mas é necessário que coloque ao alcance desses indivíduos o material que lhes permita exercer sua criatividade de maneira revolucionária. Santos Dumont (1873 – 1932) não seria o inventor do avião se não tivesse abandonado sua pachorrenta Palmira, no final do século XIX e se transferido em 1892 para Pais. (LARAIA, 2001, p. 25)

O autor prossegue com o exemplo de Albert Einstein, dizendo que se ele tivesse nascido no Himalaia, em uma localidade distante e lá permanecido, não teria desenvolvido a teoria da relatividade. É claro que tais personagens se tratam de gênios que deixaram contribuições notáveis para a humanidade e o que busca-se de acordo com a política, são crianças com potencial superior, que precisam ser acompanhadas e orientadas para se desenvolver plenamente.

Existem centros voltados para o atendimento exclusivo desse público, como por exemplo o CEDET – Centro para o Desenvolvimento do Potencial e Talento – um espaço físico e social estruturado para a dinamização da metodologia da autora Zenita Cunha Guenther, “Caminhos para Desenvolver Potencia e Talento”, tal metodologia passa por diversas etapas que vão desde a identificação até o atendimento dos alunos dentro de suas necessidades específicas:

refere-se essencialmente a uma metodologia para construir um ambiente de complementação e suplementação educacional e apoio ao aluno dotado e talentoso, matriculado em diferentes escolas, nos diversos sistemas e níveis de ensino. (GUENTHER, p. 18)

Uma das etapas da metodologia é a identificação dos alunos com altas habilidades/ superdotação e esta fase se dá através das coletas de dados junto aos professores. Estes são orientados a preencher um formulário com nome de dois alunos que se destacam em cada um dos 33 itens apresentados, todos os itens dizem respeito a algum domínio de inteligência, a pesquisa visa identificar os sinais de capacidade e inteligência geral, capacidade verbal/ pensamento linear, expressões de criatividade e pensamento criador, liderança e boas relações humanas, habilidades sensoriais e motoras. GUENTHER (2008), descreve em síntese o processo de identificação desenvolvido pelo CEDET nos seguintes estágios:

Coleta de dados e observação direta registrada pelos professores da sala de aula na folha do Guia de Observação Direta;
Nova observação sistemática pelo professor que trabalhou com a criança durante o próximo ano, em comparação com a nova turma de colegas;
Revisão e complementação com nova observação dos professores, pela equipe técnica do CEDET;
Observação Assistida, documentada por observações e registros do facilitados do CEDET. (GUENTHER, 2008, p. 13)

Para o preenchimento do Guia de Observação Direta, é feita uma sensibilização dos professores sobre o tema e orientações sobre os diversos domínios de inteligência humana. Essa sensibilização é feita pelos professores do CEDET, que recebem o nome de “facilitadores” dentro da metodologia, eles participam de reuniões coletivas dos professores, onde falam sobre os domínios de inteligência, tiram dúvidas e falem sobre o trabalho realizado pelo centro. Os professores são orientados a observar as turmas que estão trabalhando e anotar na folha os dois alunos que se sobressaem naquela turma, em cada um dos indicadores:

A base para ‘preparar o professor’ foca o estudo dos sinais que configuram a lista, e os alunos sinalizados são os que sobressaem naquele grupo de comparação, conforme observação do professor que convive com a turma durante o ano. (GUENTHER, 2011, p. 66)

Após essa orientação, os professores permanecem com o formulário por 15 dias, tempo para observar, preencher e devolver. Esses dados são analisados e guardados. No ano seguinte, o formulário é aplicado novamente, agora os alunos estão com outro professor, outra turma. Os dados são novamente analisados e os alunos que foram indicados pelos dois professores passam a ser acompanhados pelos facilitadores do CEDET. Todo esse preparo dos docentes para o preenchimento dos guias se faz necessário, pois a maioria nem sempre tem claro quem são os alunos com altas habilidades/ superdotação, principalmente por trabalharem com conteúdo acadêmico e situações que nem sempre proporcionam ocasiões onde outras características – além das acadêmicas – possam ser observadas. A maioria dos sistemas de ensino tem um currículo fechado, com uma carga de conteúdos que poucas vezes dão “brechas” para que atividades e assuntos diversos sejam trabalhados. Além, também, das questões que envolvem a formação do professor, que dão bagagem teórica insuficiente em relação ao tema. Os cursos de graduação de professores para educação básica, trabalham com a temática “educação inclusiva” de maneira superficial, o que não dá segurança de ação e atuação para os futuros docentes. Os formandos que se interessam pelo tema, geralmente procuram especializações, mas nem sempre as encontram voltadas para o assunto altas habilidades/ superdotação.

Uma educação igualitária em condições de acesso e permanência, vai além da elaboração e criação de leis, políticas, resoluções e normativas, requer quebra de paradigmas e concepções. A escola não acompanha as mudanças ocorridas na sociedade, mas sofre influência direta de todas, Berman coloca que “Apropriar-se da modernidade de ontem pode ser, ao mesmo tempo, uma crítica à modernidade de hoje é um ato de fé nas modernidades - e nos homens e mulheres modernos – de amanhã e do dia depois de amanhã. ” (BERMAN, p. 34) Essa crítica a modernidade colocada por Berman, é necessária no contexto escolar, para que menos talentos sejam desperdiçados ou perdidos para a “rua” ou para o “crime”.

BIBLIOGRAFIA

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. Trad. Carlos Felipe Moisés e Ana Maria Ioriatti. São Paulo: Companhia das Letras, 1986, p.15-84.

BRASIL. Nota Técnica nº 04/ 2014/ MEC/ SECADI/ DPEE. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Diretoria de Políticas de Educação Inclusiva - Brasília: 23 de janeiro de 2014.

BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. - Brasília: MEC/SEESP, 2008.

GIDDENS, Anthony. Introdução. In: ___. As consequências da modernidade. Trad. Raul Fiker. São. Paulo: Editora UNESP, 1991, p.11-60.

GUENTHER, Zenita C. Coleção “Debutante” – CEDET – 15 anos: Referencial de bases teóricas. Lavras/ MG, 2008.

__________. Caminhos para desenvolver potencial e talento./ Zenita Cunha Guenther. Lavras: Ed. UFLA, 2011.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2001.

Qual o papel da escola quando se tem um aluno com altas habilidades?

Buscar-se-á ainda sensibilizar os professores sobre as necessidades e interesses dos Superdotados, para que saibam como identificar, receber ou encaminhar os mesmos para um atendimento especializado possibilitando assim, uma educação de qualidade e o desenvolvimento de talentos.

Como trabalhar com os alunos com altas habilidades e superdotação?

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Conheça o potencial de seus alunos. ... .
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Quais fatores devem ser observados no aspecto do desenvolvimento e da aprendizagem do estudante com altas habilidades?

ENTRE AS CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DOS ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO, DESTACAM- SE AINDA: • Necessidade de definição própria; • Capacidade de desenvolver interesses ou habilidades específicas; • Interesse no convívio com pessoas de nível intelectual similar; • Resolução rápida de dificuldades pessoais ...

Quais são as principais características do estudante com altas habilidades superdotação?

Curiosidade, elevado grau de criatividade, facilidade e rapidez para aprender são características de pessoas superdotadas ou portadores de altas habilidades. Em geral, as crianças com habilidades acima da média manifestam as diferenças ainda na idade pré-escolar.