Porque durante a década de 1960 Paulo Freire se retirou do Brasil?

Este artigo traz uma abordagem histórica da Escolarização de Jovens e Adultos e sua trajetória na história da educação no Brasil. Caracteriza-se por uma análise documental sobre o movimento desta modalidade de ensino e as políticas públicas que a regem. Fazemos um paralelo com a evolução histórica, formação de professores, mercado de trabalho no Brasil, utilizando fontes primárias e secundárias de pesquisa, compreendendo o período de 1973 até 2007. Constatamos que a literatura especializada, em geral, descreve acontecimentos cronológicos de iniciativas pontuais na tentativa de solucionar os problemas decorrentes do analfabetismo e falta de qualificação da mão de obra necessária ao modo de produção vigente em cada época, como iniciativas em relação às políticas públicas. No que diz respeito à relação com as propostas pedagógicas para esta modalidade de ensino, com base na análise de documentos legais, diretrizes e programas para o contexto educacional brasileiro, estas se caracterizam por uma educação compensatória, supletiva e emergencial.

Escolarização de Jovens e Adultos; Público de EJA; Políticas públicas; Propostas pedagógicas


Este artículo ofrece un enfoque histórico de la escolarización de jóvenes y adultos y su trayectoria en la historia de la educación en Brasil. Se caracteriza por un análisis documental sobre el movimiento de este tipo de educación y las políticas públicas que la rigen. Hacemos un paralelismo con la evolución histórica, la formación del profesorado, el mercado de trabajo en Brasil, utilizando fuentes primarias y secundarias de pesquisa incluyendo el período de 1973 a 2007. Tomamos nota de que la literatura, en general, describe cronológicamente los acontecimientos de iniciativas puntuales en un intento de resolver los problemas del analfabetismo y la falta de calificación de la mano de obra necesaria para el modo de producción de cada época, como las iniciativas con relación a las políticas públicas. Cuanto a la relación con las propuestas educativas para este tipo de educación basado en el análisis de documentos jurídicos, directrices y programas para el contexto educativo brasileño, estas se caracterizan por una educación compensatoria, y complementaria de emergencia.

La escolarización de jóvenes y adultos; Público de EJA; Las políticas públicas; Propuestas pedagógicas


This article provides a historical approach of Schooling for Youth and Adults and its trajectory in the history of education in Brazil. It is characterized by an analysis documentary on the movement of this type of education and public policies that govern it. We compare with the historical development, teacher training, the labor market in Brazil, using primary and secondary sources with the search including the period from 1973 to 2007. We note that literature in general, describes events chronologically ad hoc initiatives in an attempt to solve the problems of illiteracy and lack of qualification of the workforce necessary for the current method of production each season, as initiatives for public policies. Regarding the relationship with the educational proposals for this type of education based on the analysis of legal documents, guidelines and programs for the Brazilian educational context, they are characterized by a compensatory, supplementary, and emergency education.

Schooling for Youth and Adults; Public EJA; Public Policy; Educational Proposals


Trajetória da escolarização de jovens e adultos no Brasil: de plataformas de governo a propostas pedagógicas esvaziadas

Trajectory schooling of youth and adults in Brazil: of government platforms to the pedagogical proposals emptied

Trayectoria de la escolarización de jóvenes y adultos en Brasil: de plataformas de gobierno a propuestas pedagógicas vaciadas

Márcia FriedrichI; Anna M. Canavarro BeniteII; Claudio R. Machado BeniteIII; Viviane Soares PereiraIV

I Mestre em Educação em Ciências e Matemática, Universidade Federal de Goiás (UFG); Professora da Rede Municipal de Educação de Goiânia. E-mail: [email protected]

II Doutora em Ciências, UFG. E-mail: [email protected]

III Doutorando em Química, Mestre em Ciências e Matemática, Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão (LPEQI/UFG). E-mail: [email protected]

IV Licenciada em Química, Universidade Estadual de Goiás (UEG), Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão (LPEQI/UFG). E-mail: [email protected]

RESUMO

Este artigo traz uma abordagem histórica da Escolarização de Jovens e Adultos e sua trajetória na história da educação no Brasil. Caracteriza-se por uma análise documental sobre o movimento desta modalidade de ensino e as políticas públicas que a regem. Fazemos um paralelo com a evolução histórica, formação de professores, mercado de trabalho no Brasil, utilizando fontes primárias e secundárias de pesquisa, compreendendo o período de 1973 até 2007. Constatamos que a literatura especializada, em geral, descreve acontecimentos cronológicos de iniciativas pontuais na tentativa de solucionar os problemas decorrentes do analfabetismo e falta de qualificação da mão de obra necessária ao modo de produção vigente em cada época, como iniciativas em relação às políticas públicas. No que diz respeito à relação com as propostas pedagógicas para esta modalidade de ensino, com base na análise de documentos legais, diretrizes e programas para o contexto educacional brasileiro, estas se caracterizam por uma educação compensatória, supletiva e emergencial.

Palavras-chave: Escolarização de Jovens e Adultos. Público de EJA. Políticas públicas. Propostas pedagógicas.

ABSTRACT

This article provides a historical approach of Schooling for Youth and Adults and its trajectory in the history of education in Brazil. It is characterized by an analysis documentary on the movement of this type of education and public policies that govern it. We compare with the historical development, teacher training, the labor market in Brazil, using primary and secondary sources with the search including the period from 1973 to 2007. We note that literature in general, describes events chronologically ad hoc initiatives in an attempt to solve the problems of illiteracy and lack of qualification of the workforce necessary for the current method of production each season, as initiatives for public policies. Regarding the relationship with the educational proposals for this type of education based on the analysis of legal documents, guidelines and programs for the Brazilian educational context, they are characterized by a compensatory, supplementary, and emergency education.

Keywords: Schooling for Youth and Adults. Public EJA. Public Policy. Educational Proposals.

RESUMEN

Este artículo ofrece un enfoque histórico de la escolarización de jóvenes y adultos y su trayectoria en la historia de la educación en Brasil. Se caracteriza por un análisis documental sobre el movimiento de este tipo de educación y las políticas públicas que la rigen. Hacemos un paralelismo con la evolución histórica, la formación del profesorado, el mercado de trabajo en Brasil, utilizando fuentes primarias y secundarias de pesquisa incluyendo el período de 1973 a 2007. Tomamos nota de que la literatura, en general, describe cronológicamente los acontecimientos de iniciativas puntuales en un intento de resolver los problemas del analfabetismo y la falta de calificación de la mano de obra necesaria para el modo de producción de cada época, como las iniciativas con relación a las políticas públicas. Cuanto a la relación con las propuestas educativas para este tipo de educación basado en el análisis de documentos jurídicos, directrices y programas para el contexto educativo brasileño, estas se caracterizan por una educación compensatoria, y complementaria de emergencia.

Palabras clave: La escolarización de jóvenes y adultos. Público de EJA. Las políticas públicas. Propuestas pedagógicas.

Caracterizando a pesquisa

Este trabalho traz uma abordagem da Escolarização de Jovens e Adultos e sua trajetória na história da educação no Brasil. Caracteriza-se por uma análise documental da literatura de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e do movimento da modalidade de ensino, políticas públicas, bem como o seu percurso na formação de professores. Fazendo um paralelo com a evolução histórica, formação de professores, mercado de trabalho no Brasil, trabalhamos com fontes primárias e secundárias de pesquisa, compreendendo o período de 1973 até 2007.

Nossa trajetória metodológica consistiu em estudos baseados em documentos como material primordial, fossem revisões bibliográficas, fossem pesquisas historiográficas, e tentamos extrair destes uma análise, organizando-os e interpretando-os segundo os objetivos da investigação proposta. O trabalho analítico teve como objeto central a produção escrita sobre EJA no período investigado, bem como referências sócio-históricas que influenciaram estas produções.

Procuramos por fontes e, nelas, os documentos necessários para a pesquisa. E, em um primeiro momento, não nos preocupamos com a análise propriamente dita, que seria núcleo do trabalho subsequente, mas com a organização do material. Para isso, importou somente a obtenção de informações advindas de publicações, anais de congressos, além de referências sobre o tema. As fontes foram anotadas e a documentação arquivada em pastas, segundo ordem cronológica ao mesmo tempo em que se dava prosseguimento à coleta.

Leituras e fichamentos tiveram papel central na adoção desta técnica de pesquisa. Então, para cada documento criamos uma ficha contendo resumo, referência bibliográfica da publicação, além de algumas transcrições de trechos que poderiam ser utilizados posteriormente. Processamos esta organização do material seguindo critérios da análise de conteúdo (BARDIN, 1994). Para desenvolver a análise, além de contar com a organização da documentação foram construídos quadros de autores considerados referenciais na área, dentre os quais: Vanilda Pereira Paiva (1973), Celso de Rui Beisiegel (1974), Maria Margarida Machado (1998, 2000), Maria Clarice Vieira (2004), Marta Kohl de Oliveira (1999), Paulo Freire (1983, 1987, 2002), Moacir Gadotti e José Eustáquio Romão (2006), Gaudêncio Frigotto, Maria Ciavatta e Marise Ramos (2005), José Eustáquio Romão (2006), Sérgio Haddad e Maria Clara Di Pierro (2000), Selva Paraguassú Lopes e Maria Ciavatta (2005), Maria Clara Di Pierro, Orlando Joia e Vera Masagão Ribeiro (2001), Osmar Fávero, Sonia Maria Rummert e Sonia Maria Vargas (1999), Sonia Maria Rummert e Jaqueline Pereira Ventura (2007) entre outros.

O objetivo da pesquisa é analisar historicamente a articulação entre as políticas públicas e suas propostas pedagógicas na EJA, no Brasil. No presente estudo, constatamos que a literatura traz em geral acontecimentos cronológicos de iniciativas pontuais na tentativa de solucionar os problemas decorrentes do analfabetismo e falta de qualificação da mão de obra necessária ao modo de produção em cada época da história de nosso país. Também se caracteriza por uma educação compensatória, supletiva e emergencial. Quanto aos professores surge um sujeito com perfil de um herói que resolve enfrentar sem uma formação específica uma modalidade de ensino com muitas carências. O professor diante de manuais precisa usar de toda sua criatividade para ensinar ao seu aluno, também numa condição de exclusão. A inquietação das universidades com esse tipo de formação somente agora começa a se manifestar e isso impulsiona ingenuamente a criação em seus cursos de disciplinas que abordem o tema EJA.

Um pequeno glossário sobre a EJA

A EJA emerge de lacunas do sistema educacional regular (processo de escolarização) e compreende um conjunto muito diverso de processos e práticas formais e informais relacionadas à aquisição ou ampliação de conhecimentos básicos, de competências técnicas e profissionais ou de habilidades socioculturais.

Muitos destes processos se desenvolvem de modo mais ou menos sistemático fora de ambientes escolares, realizando-se na família, nos locais de trabalho, nos espaços de convívio socioculturais e lazer, nas instituições religiosas e, nos dias atuais, também com o concurso dos meios de informação e comunicação à distância. (HADDAD; DI PIERRO, 2000, p. 4).

Concordamos com Haddad e Di Pierro (2000) que qualquer tentativa de historiar um universo tão plural de práticas formativas implicaria risco de fracasso, pois a EJA estende-se por quase todos os domínios da vida social. Assim, o texto que segue aborda os processos sistemáticos e organizados de formação geral de pessoas jovens e adultas no Brasil, conferindo especial atenção à educação escolar, ou seja, à escolarização de jovens e adultos.

Por sua vez, a escolarização de jovens e adultos pode ser considerada em toda sua trajetória como proposta política redimensionada à plataforma de governo na tentativa de elucidação de um problema decorrente das lacunas do sistema de ensino regular. Sendo assim, muitas confusões surgem nas definições encontradas na literatura acerca da nomenclatura de EJA. Não significa que essa modalidade de ensino, hoje Educação de Jovens e Adultos, tenha diferentes definições, mas pela própria história da evolução da EJA no Brasil e no mundo nas diferentes faces do desenvolvimento histórico da sociedade, o tratamento dos termos associados foi-se confundindo e se configurando como complementação de estudos e suplementação de escolarização.

Segundo Gadotti e Romão (2006), os termos educação de adultos, educação popular, educação não-formal e educação comunitária são usados como sinônimos, mas não o são. A educação de adultos caracteriza-se pela postura da United Nations Education Social and Cultural Organization (UNESCO) reportando-se a uma área especializada da educação. Educação não formal é utilizada pelos Estados Unidos para fazer referência à educação de adultos dos países de terceiro mundo, onde reserva-se o uso do termo educação de adultos (GADOTTI; ROMÃO, 2006).

No Brasil, o termo educação não formal acompanha o conceito difundido na América Latina que se dirige à educação de adultos vinculada a organismos não governamentais, geralmente locais onde o Estado se omitiu. Assim, está desenvolvida e organizada em caráter de não parceria com os organismos formais. A educação popular caracteriza-se pela compreensão contrária à educação de adultos impulsionada pelos organismos oficiais, surgindo nos espaços em que a necessidade dos grupos aflora e o Estado não tem intenção nem força para atuar. A característica da educação popular brota com o entendimento da conscientização de Paulo Freire e um profundo respeito aos saberes populares (GADOTTI; ROMÃO, 2006).

Com o processo de industrialização e a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)1 1 Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), criado em 1942, pelo Decreto-Lei nº.4.048, do então presidente Getúlio Vargas, surgiu para atender a uma necessidade premente: a formação de mão de obra para a incipiente indústria de base (SENAI, [2007?]). 2 A absorção de uma cultura pela outra, onde essa nova cultura terá aspectos da cultura inicial e da cultura absorvida. "através das crianças os jesuítas buscavam atingir seus pais; além disso , era tentada a catequese direta dos indígenas adultos e nesses casos a alfabetização e transmissão do idioma português servia como instrumento de cristianização e aculturação dos nativos" ( PAIVA, 1973, p. 165). 3 O professor Anísio Teixeira, na década de 1960, apresentou uma proposta de como definir e implantar um fundo que garantisse recursos permanentes para o ensino primário. (AMARAL, 2001, p. 278). 4 Realizou-se a primeira avaliação sobre o enorme índice de analfabetismo no país, passou-se já a interpretar a EJA como algo bem maior do que a simples transmissão de técnicas elementares da leitura e da escrita, além de se discutir a necessidade de uma diferenciação metodológica para a EJA, levando-se em consideração o meio rural e urbano (OLIVEIRA; ALMEIDA, 2005, p. 2). 5 Seminário Interamericano de Educação, promovido pela UNESCO e pela OEA em 1949, com sede no Rio de Janeiro, configurou-se como momento de reflexão, planejamento e sistematização de diretrizes que projetaram o conjunto inicial de práticas em Educação Rural estendidas pelos anos 50. Como objetivo geral, o Seminário estabeleceu para si o compromisso com a construção de uma "nova vida internacional", com formação de uma "cultura americana", com a estruturação política e econômica do continente, com a convivência civil e a participação democrática de todos no bem estar geral, além do compromisso central, que era o da incorporação das massas indígenas e rurais à vida nacional e o "cumprimento da missão histórica da América em construir uma pátria aberta a todos os perseguidos da terra" (SOUZA, 1999). 6 Educador brasileiro conhecido, sobretudo por sua participação no movimento dos pioneiros da Escola Nova, recebeu duras críticas por ter colaborado com o Estado Novo de Getúlio Vargas (DI PIERRO; JOIA; RIBEIRO, 2001). 7 Mais que uma crise institucional (seja política, seja militar, seja parlamentar), ou uma crise econômica, a crise de 1964 é a expressão-limite da luta de classes no Brasil. 8 Capital humano: conhecimentos que aumentam a capacidade de trabalho (SHULTZ, 1962).

Por que Paulo Freire precisou deixar o país?

Uma pedagogia concreta Sua metodologia dialógica foi considerada perigosamente subversiva pelo regime militar, o que rendeu a Freire o exílio. O educador, entretanto, não deixou de produzir e nesse período escreveu algumas de suas principais obras, dentre elas, a Pedagogia do Oprimido.

O que Paulo Freire fez em 1960?

Paulo Freire é o patrono da educação brasileira O pedagogo foi preso e exilado durante os anos 60, no princípio da ditadura militar, e esteve fora do Brasil durante 15 anos. Nesse período deu palestras e aulas numa série de países, além de ter trabalhado com governos e movimentos sociais em prol da educação.

O que aconteceu com Paulo Freire no ano de 1947?

Em 1947, o professor assumiu a direção do Departamento de Educação e Cultura do SESI, o Serviço Social da Indústria. Foi lá que ele iniciou seu trabalho de alfabetização de jovens e adultos.

Em qual período da história brasileira Paulo Freire foi exilado?

O educador sofreu perseguição do regime militar (1964-1985), ficou preso por 70 dias e foi exilado por 16 anos, considerado traidor. Em 1967, durante o exílio, no Chile, escreveu o primeiro livro, Educação como Prática da Liberdade.