O fluxo migratório de pessoas vindas da Região nordeste para o Sudeste ainda e representativo

Impulsionado pelo crescimento econômico, o fluxo migratório da Região Nordeste para a Sudeste aumentou nos últimos anos, revertendo tendência de retorno verificada na última década. De acordo com o levantamento Migração Interna no Brasil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mais nordestinos embarcaram para o Sudeste (461.983 pessoas) em 2008 do que o contrário (387.428). O fluxo de migrantes nordestinos para o Sudeste sempre foi grande, mas, entre 2002 e 2007, havia se invertido, com mais nordestinos deixando o Sudeste.

O número total de migrantes no País caiu nos últimos anos, apesar do aumento da população. Em 1995 eles eram 4 milhões de pessoas (3% da população) e em 2008 o volume caiu para 3,3 milhões (1,9%). O corredor Nordeste-Sudeste continua sendo o mais movimentado do País e São Paulo, a capital mais atrativa.

Na avaliação do pesquisador do Ipea Herton Araújo, a razão dessa inversão pode ser encontrada no crescimento econômico, que favoreceu a economia do Sudeste. “O Sudeste, principalmente São Paulo, oferece mais condições de trabalho. É mais fácil ser formalizado no Sudeste do que no Nordeste.”

O levantamento usa dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad) de 2008 – últimos disponíveis – e conclui que a ideia tradicional de que “a migração significa pobreza é parcial e só se aplica de forma relativa”. O deslocamento agora se justifica pela procura de trabalho e renda.

Comparando dados de escolaridade e renda, o levantamento mostra que o migrante nordestino tem escolaridade cada vez maior e renda mais elevada. O percentual de migrantes saídos do Nordeste com mais de 12 anos de estudo passou de 7,9% em 1995 para 14,1% em 2008. “Isso significa que os migrantes vão disputar os empregos de igual para igual”, diz Araújo.

O salário médio do imigrante do Nordeste em Estados do Sudeste, que geralmente chegam da Bahia, Pernambuco e Ceará, aumentou de R$ 703,74 em 2005 para R$ 953,03 em 2008. Já a renda média do nordestino que ficou em sua região é bem menor e passou de R$ 529,52 em 1995 para R$ 597,05 em 2008.

A comparação interregional mostra algumas razões que justificam a atração do Sudeste. O percentual da população sudestina ocupada vem crescendo continuamente: eram 63,9% em 1995 e chegou a 65,2% em 2008. No Nordeste, o percentual caiu de 66,7% em 1995 para 64,7% em 2008. Já o percentual de imigrantes nordestinos que encontraram ocupação no Sudeste cresceu de 64,6% em 1995 para 75% em 2008.

Metade dos migrantes são jovens de 18 a 29 anos

Os jovens de 18 a 29 anos são quase metade dos migrantes – aqueles que mudam de uma região para outra e dentro da própria região – no País, de acordo com o estudo do Ipea. Em 1995, do total de migrantes no País, o percentual de jovens era de 49,9% e, em 2001, de 47,3%. Há cinco anos, o total era de 45,5%, índice pouco menor que o de 2008, 45,6%.

O instituto aponta que “esse indicador já está em diminuição, graças ao processo de envelhecimento populacional”. Apesar disso, o número de jovens migrantes de dentro da Região Sul apresentou aumento no último período analisado: de 39,5% em 2005 para 49,9% em 2008. O instituto destaca também o alto percentual de jovens entre os migrantes do Nordeste para o Sudeste em 2008: 62,9%.

O estudo aponta ainda que a informalidade era maior entre os migrantes que entre os não migrantes nos três primeiros anos da série (1995, 2001 e 2005). Em 2008, houve uma inversão e a informalidade passou a ser maior entre os não migrantes. “Isso ocorreu porque a velocidade de queda da informalidade tem sido maior entre os migrantes, com destaque para os migrantes do Nordeste para o Sudeste”, registrou o Ipea no estudo. Entre os nordestinos que migraram para o Sudeste, houve queda na informalidade de 50% em 2005 para 40,9% em 2008.

O Ipea informou que essa dinâmica criou uma situação curiosa. “Os que migraram do Nordeste para o Sudeste se encontravam, em 2008, em melhor situação do que os próprios não migrantes do Sudeste”, registrou o instituto. “Se o processo continuar, será possível dizer que esses migrantes estão cada vez mais se qualificando em termos de inserção”.

Até a década de 1970, o processo de migração interna no território brasileiro tinha como principais destinos a região Sul e, especialmente, a região Sudeste, pelo fato delas fornecerem maiores oportunidades de emprego, em razão do processo de industrialização desenvolvido nas décadas anteriores.
Porém, após a década de 1970, com a saturação no mercado de trabalho da região Sudeste, houve uma diversidade nos fluxos migratórios no território brasileiro.

A expansão da fronteira agrícola e maiores investimentos em infraestrutura proporcionou o fortalecimento e ampliou ainda mais os fluxos migratórios para a região Centro-Oeste. Nas últimas décadas, a região sofreu uma série de transformações com impactos consideráveis na estrutura produtiva e ocupacional. Os incentivos governamentais na década de 1970 para a ocupação do Centro-Oeste refletiram em significativos movimentos migratórios e grandes empreendimentos agropecuários na região.

Outro fator que intensificou a migração para a região Centro-Oeste foi a construção de Brasília, que também foi uma forma de política pública para a ocupação da porção oeste do território brasileiro. O fluxo para a formação de Brasília começou, evidentemente, com sua construção. Entre 1960 e 1970, a população do Distrito Federal quase quadruplicou, recebendo um fluxo migratório de aproximadamente 30 mil pessoas por ano.

O Centro-Oeste brasileiro recebe migrantes de todas as partes do Brasil, com destaque para os mineiros, maranhenses, baianos e paulistas no estado de Goiás, nordestinos, mineiros e paulistas no Distrito Federal, sulistas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Em 1980 residiam no Centro-Oeste aproximadamente 2.359.793 brasileiros naturais de outras regiões (aumento de 288% em relação ao ano de 1960). Os fluxos mais altos procedem do Sudeste e do Nordeste. Atualmente cerca de 30% da população residente no Centro-Oeste é composta por imigrantes.

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Wagner de Cerqueira e Francisco
Graduado em Geografia

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FRANCISCO, Wagner de Cerqueira e. "População do Centro-Oeste composta por migrantes "; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/populacao-centrooeste-composta-por-migrantes.htm. Acesso em 01 de dezembro de 2022.

De estudante para estudante


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Qual tem sido o principal fluxo migratório envolvendo Sudeste e Nordeste a partir do século 21?

A corrente migratória mais expressiva continua a ser entre o Nordeste e o Sudeste, mas houve redução. A região Nordeste foi a que apresentou o maior número de migrantes retornando para seus estados, seguida, em menor escala, pela região Sul.

Quantos nordestinos têm no Sudeste?

Apesar do Sudeste ser a região de maior destino de migração dos nordestinos, estes representam apenas 9,35% da população residente daquela região. Em contrapartida, a composição da população residente na região Centro-Oeste é a que possui maior concentração de migrantes nordestinos (11,96%).

Por que os fluxos migratórios são considerados uma característica marcante da população nordestina?

Resposta verificada por especialistas Os fluxos migratórios são considerados uma características marcante da população nordestina porque ao longo da história recente as secas, a fome e a miséria no Nordeste geraram fluxos migratórios com destinos a outros estados.

Como tem ocorrido o movimento migratório na região Nordeste?

Resposta: Esse movimento migratório teve e tem grande relevância na história da migração no Brasil, desde a época do Império. A estagnação econômica, as constantes secas, em contraste com a prosperidade econômica de outras regiões do Brasil, foram fatores determinantes no início do processo migratório nordestino.